Saúde

Geração Pandemia: os efeitos de longo prazo em crianças e jovens

Atrasos no desenvolvimento físico e social

Cinco anos após o início da pandemia de Covid-19, os efeitos do isolamento social e do fechamento de escolas começam a aparecer de forma clara nas crianças que viveram seus primeiros anos de vida sob as restrições. Educadores e cientistas ao redor do mundo observam uma geração com dificuldades motoras, de linguagem e de interação social. Relatos de professores, como os da pré-escola na Califórnia, indicam que crianças hoje são fisicamente mais cautelosas, hesitam em escalar e pular, e se sentem superestimuladas em ambientes com muitos ruídos, como uma aula de música.

Pesquisadores acreditam que a falta de experiências sociais nos primeiros anos — como ir a um parquinho, ouvir vozes diferentes ou simplesmente ver os rostos das pessoas sem máscaras — teve um impacto desproporcional. Estudos preliminares já apontam para um vocabulário menor e mais dificuldades com habilidades de raciocínio entre as crianças nascidas durante os lockdowns mais rigorosos.

O prejuízo educacional e o custo econômico

O impacto mais mensurável da pandemia foi na educação. Estima-se que 1,6 bilhão de estudantes em todo o mundo tiveram sua educação prejudicada. Uma análise global de 42 estudos revelou que os alunos perderam, em média, um terço do aprendizado de um ano letivo. O déficit foi ainda maior em países como o Brasil, México e África do Sul, com perdas mais acentuadas em matemática e ciências.

Essas lacunas de aprendizado, segundo economistas, terão um custo econômico duradouro. A consultoria McKinsey estima que a geração de estudantes afetada pela pandemia poderá ter uma perda de renda de dezenas de milhares de dólares ao longo da vida, o que pode representar um prejuízo anual de até R$ 1 trilhão para a economia dos EUA quando esses jovens entrarem no mercado de trabalho. “É um impacto econômico enorme”, afirma o pesquisador Maciej Jakubowski, da Universidade de Varsóvia.

Saúde mental e comportamento: as cicatrizes invisíveis

Além dos prejuízos educacionais, a pandemia deixou marcas na saúde mental e no comportamento das crianças. Os principais efeitos observados por estudos em todo o mundo incluem:

  • Aumento de Ansiedade e Depressão: Níveis elevados de ansiedade, depressão, raiva e irritabilidade foram registrados durante os lockdowns.
  • Problemas Comportamentais: Crianças apresentaram mais sinais de internalização de problemas e dificuldades de comportamento devido aos longos períodos de confinamento.
  • Menos Comportamento Pró-social: Um estudo na China constatou que as crianças se tornaram menos dispostas a agir de maneiras que beneficiem os outros.

Curiosamente, um estudo da UCLA observou que os índices de maturidade emocional das crianças melhoraram durante a pandemia, possivelmente porque a exposição a temas complexos e adversidades, como o noticiário sobre a contagem de mortos, acelerou esse aspecto do desenvolvimento.

Há sinais de recuperação no horizonte?

Apesar do cenário preocupante, há lampejos de esperança. Educadores já notam uma melhora nas turmas mais recentes, com crianças mais aventureiras e participativas nas atividades em grupo. Estudos no Reino Unido e nos EUA também mostram que houve alguma recuperação dos grandes déficits de aprendizagem, embora essa recuperação tenda a ser mais rápida para crianças de famílias com mais recursos, o que pode aumentar a desigualdade social.

Especialistas alertam que essa recuperação não acontecerá por conta própria. É preciso um esforço concentrado de governos, escolas e famílias, com intervenções direcionadas, como aulas de reforço em pequenos grupos, para ajudar a “Geração Pandemia” a superar os desafios impostos por um período que mudou suas vidas para sempre.

Redação com informações de BBC internacional

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