Internacional

Cúpula do Brics no Brasil é esvaziada e perde força política

As ausências de peso no Rio de Janeiro

A cúpula do Brics, sediada pelo Brasil neste fim de semana no Rio de Janeiro, começou com um tom esvaziado e com dificuldades para avançar em sua própria agenda. O motivo é a ausência de alguns dos mais importantes líderes do bloco, que optaram por enviar representantes em vez de comparecerem pessoalmente, enfraquecendo o peso político do encontro.

A lista de ausências notáveis mina a capacidade do grupo de discutir temas geopolíticos mais duros e de tomar decisões de grande impacto. Os principais líderes que não vieram ao Brasil são:

  • Xi Jinping, presidente da China
  • Vladimir Putin, presidente da Rússia
  • Aiatolá Ali Khamenei, líder supremo do Irã

Agenda enfraquecida: do Conselho da ONU à IA

Com a falta das principais lideranças políticas, a pauta da cúpula perdeu força. Temas ambiciosos e caros ao bloco, como a reforma do Conselho de Segurança da ONU, que o Brics considera antiquado e pouco representativo dos países em desenvolvimento, devem ser tratados de forma mais superficial. A ausência de líderes com poder de decisão dificulta qualquer avanço concreto em questões que exigem negociações complexas.

Dessa forma, as discussões anunciadas para o encontro devem se concentrar em temas de menor apelo geopolítico imediato, como a cooperação em inteligência artificial e o financiamento climático. A agenda, embora importante, fica aquém do potencial que uma reunião com todos os chefes de Estado poderia ter.

O tom de Lula: multilateralismo e críticas à ONU

Como anfitrião, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) busca assumir um papel de liderança, mantendo um tom conciliador e reforçando a imagem do Brics como um guardião do multilateralismo. O objetivo é posicionar o bloco como um contraponto à guerra comercial e às políticas protecionistas, especialmente as dos Estados Unidos.

Apesar do tom moderado, Lula não poupou críticas à ordem global atual. Em um dos eventos, ele voltou a criticar a inação das Nações Unidas em conflitos ao redor do mundo. “Há muito tempo que eu não via a nossa ONU tão insignificante como ela se apresenta hoje. Uma ONU que foi capaz de criar um Estado de Israel não é capaz de criar o Estado palestino”, disse o presidente.

A sombra da disputa com o ocidente

A cúpula ocorre sob a sombra da tensão com as potências ocidentais. O presidente americano, Donald Trump, já criticou publicamente o Brics, principalmente pela discussão sobre a criação de uma moeda de comércio alternativa ao dólar, ameaçando impor tarifas ao bloco caso a proposta avance.

Lula, no entanto, voltou a defender a ideia nesta sexta-feira (4), criticando o “protecionismo” na economia global. “É por isso que a discussão de vocês sobre a necessidade de uma nova moeda de comércio é extremamente importante”, afirmou, sinalizando que, mesmo com as ausências, o Brasil tentará manter a chama de uma agenda reformista acesa no encontro.

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