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Brasil Enfrenta Crise de Custos de Hospedagem para COP30 sob Pressão de Nações em Desenvolvimento

A Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), marcada para 10 a 21 de novembro de 2025 em Belém, Brasil, busca destacar o papel crucial da Amazônia no combate às mudanças climáticas. No entanto, os altos custos de hospedagem na cidade anfitriã provocaram indignação entre nações em desenvolvimento e grupos da sociedade civil, ameaçando excluir países mais vulneráveis ao clima desse encontro crucial. Apesar das garantias do governo brasileiro, lideradas pelo secretário especial Valter Correia, de que soluções estão em curso, a escassez de acomodações acessíveis levanta sérias questões sobre inclusão e equidade. Este artigo, baseado na cobertura da Reuters de 16 de julho de 2025, analisa criticamente a resposta do Brasil a essas preocupações e suas implicações para a acessibilidade da COP30.

A Crise de Hospedagem em Belém: Uma Barreira à Inclusão

A escolha de Belém, uma cidade de 1,3 milhão de habitantes na borda da Amazônia, reflete a urgência de abordar a preservação das florestas tropicais. Contudo, sua infraestrutura limitada resultou em uma grave escassez de acomodações, com preços atingindo níveis exorbitantes. Em plataformas como Booking.com, um quarto pode custar US$15.266 por noite durante a COP30, um aumento de 9.562% em relação aos habituais US$158, enquanto anúncios no Airbnb chegam a US$9.320 por dia, contra uma média normal de US$11 (AP News, 2025). Esses preços, descritos como “surrealistas” pelo arquiteto local Renato Balaguer, alimentaram acusações de especulação imobiliária, com proprietários cancelando aluguéis existentes para lucrar com a demanda do evento (AP News, 2025). Esses custos são proibitivos para delegações de países em desenvolvimento, especialmente pequenos estados insulares e nações menos desenvolvidas (LDCs), que sofrem mais com as mudanças climáticas, mas têm menos recursos para participar.

Pressão de Nações em Desenvolvimento

Durante uma conferência climática em Bonn, Alemanha, representantes de nações africanas e insulares do Pacífico expressaram “grandes preocupações” com os custos de hospedagem em Belém, alertando que isso poderia comprometer sua participação (Climate Home News, 2025). Richard Muyungi, presidente do Grupo Africano de Negociadores, e Ilana Seid, presidente da Aliança de Pequenos Estados Insulares (AOSIS), destacaram que esses países, já enfrentando desafios logísticos, não podem arcar com preços superiores a US$5.000 por pessoa para um hotel três estrelas na primeira semana do evento (Climate Home News, 2025). Evans Njewa, do Malawi, representando os LDCs, reiterou essas preocupações, que foram levantadas repetidamente com a presidência brasileira da COP30. O descontentamento evidencia o temor de que a COP30, destinada a amplificar vozes marginalizadas, possa se tornar “a COP mais inacessível da memória recente”, como afirmou o negociador panamenho Juan Carlos Monterrey (Climate Home News, 2025).

Resposta do Brasil: Soluções Criativas, Resultados Limitados

Valter Correia, secretário especial para a COP30, prometeu garantir que “todos possam vir a preços acessíveis”, enfatizando que excluir nações vulneráveis ao clima é “absolutamente impensável” (Reuters, 2025). O Brasil afirma ter assegurado 30.000 quartos, superando a estimativa da ONU de 20.000 necessários para delegações, jornalistas e observadores, embora aquém da projeção inicial de Correia de 45.000 participantes (Reuters, 2025). Para enfrentar o déficit, o governo adotou soluções criativas:

  • Novos Hotéis e Reformas: Construção de novos hotéis e modernização de existentes estão em andamento, com destaque para um hotel em construção em Belém (Reuters, 2025).
  • Navios de Cruzeiro: Dois navios fornecerão 3.900 cabines, com preços entre US$250 e US$1.300 por noite (Politico, 2025).
  • Acomodações Alternativas: Escolas públicas (7.300 leitos), quartéis militares e tendas climatizadas estão sendo adaptados, além de balsas e iates (Climate Home News, 2025).
  • Plataforma de Reservas Oficial: Lançada em julho de 2025, oferece inicialmente 1.500 quartos para 98 países em desenvolvimento a US$100–US$220 por noite, com mais 1.000 quartos a até US$600 por noite em breve (Reuters, 2025).

Apesar desses esforços, o lançamento tardio da plataforma — prometido para março de 2025 — gerou críticas, com relatos de que pode levar semanas para estar totalmente operacional devido à falta de listagens (Climate Home News, 2025). Correia admite que, embora combata a especulação de preços, nem todos os participantes terão acesso a tarifas reduzidas, levantando dúvidas sobre a equidade para grupos da sociedade civil, como a Mercy Corps, que destacou barreiras à participação (Euronews, 2025).

Contexto Econômico e Social

A crise de hospedagem em Belém reflete um desequilíbrio entre oferta e demanda, agravado pela especulação imobiliária. Com uma renda média mensal de US$920 em uma cidade de 2,5 milhões de habitantes, os proprietários estão capitalizando os esperados 50.000 participantes, em comparação com 54.148 na COP29 em Baku e 83.884 em Dubai (Euronews, 2025). O investimento de US$4,7 bilhões do governo em infraestrutura para a COP30, incluindo mobilidade urbana e saneamento, visa deixar um legado para Belém, mas não resolveu a crise imediata de hospedagem (Secretaria de Comunicação Social, 2024). Postagens no X refletem a frustração pública, com usuários questionando por que São Paulo, com melhor infraestrutura, não foi escolhida, e citando custos como US$2.000 por noite como barreiras (@Andre17121979, 2025).

Perspectiva Crítica: Uma Questão de Prioridades

A ambição do Brasil de sediar a COP30 na Amazônia é louvável, destacando o papel das florestas tropicais nas soluções climáticas globais. Contudo, a crise de hospedagem revela uma desconexão entre essa visão e sua execução prática. Os custos exorbitantes ameaçam minar a inclusão, marginalizando nações do Sul Global e ativistas essenciais para debates sobre financiamento climático e adaptação. A dependência de soluções improvisadas, como navios e escolas, embora inovadora, pode não atender à demanda ou garantir acessibilidade. A Paraíba precisa avaliar se é justificável continuar enchendo os cofres públicos às custas dos riscos de exclusão e desconfiança que essa liberação de preços elevados pode trazer. Um passo sensato seria consultar a população para saber se aprova esse tipo de liberalismo, mas é ingênuo pensar que tal medida seria admitida num sistema focado no prestígio. Como dados viciados, que prometem vitórias ilusórias, as promessas de acessibilidade em Belém correm o risco de excluir as vozes mais cruciais do diálogo climático.


Fontes: Reuters (2025), Climate Home News (2025), AP News (2025), Euronews (2025), Secretaria de Comunicação Social (2024), Politico (2025) [XGR-XAI-17072025-0926-G3M]

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