Câncer Colorretal: Por Que a Doença que Afetou Preta Gil Cresce de Forma Preocupante em Jovens
A morte da cantora e apresentadora Preta Gil, aos 50 anos, devido a complicações de um câncer colorretal, acende um alerta sobre o crescimento assustador dessa doença em pessoas com menos de 50 anos. Diagnostica em janeiro de 2023, quando tinha 48 anos, a artista se tornou um símbolo da urgência em discutir o tema.
Considerado um dos tipos de câncer mais impactantes na saúde e na qualidade de vida, o tumor colorretal, que afeta o intestino grosso (cólon) e o reto, tem mostrado uma tendência global de aumento entre a população mais jovem. Enquanto os casos permanecem relativamente estáveis entre os mais velhos, o avanço da doença em indivíduos abaixo dos 50 anos tem preocupado especialistas em todo o mundo, que usam termos como “assustador”, “preocupante” e “problema global” para descrever a situação.
O Cenário Alarmante dos Números
A elevação da incidência de câncer colorretal em jovens é uma realidade observada em diversos países. Nos Estados Unidos, por exemplo, um relatório da Sociedade Americana de Câncer de 2023 revelou que 20% dos diagnósticos de tumor colorretal em 2019 ocorreram em pacientes com menos de 55 anos, o dobro da taxa de 1995. As taxas de detecção em estágio avançado cresceram cerca de 3% ao ano entre indivíduos com menos de 50 anos, com estimativas de 19,5 mil casos e 3,7 mil mortes nessa faixa etária em 2023.
No Brasil, dados preliminares do Instituto Nacional de Câncer (Inca) analisados pela epidemiologista Marianna Cancela apontam um aumento significativo. Em 2000, havia cerca de 5 casos por 100 mil habitantes entre homens de 20 a 49 anos; em 2017, esse número subiu para aproximadamente 6 casos. Para as mulheres jovens, a tendência de aumento também existe, mas ainda não é estatisticamente significativa.
Além disso, pesquisas recentes indicam que o Brasil não deve cumprir as metas da ONU para redução de mortes prematuras por câncer, sendo o câncer colorretal a única exceção com previsão de crescimento nos óbitos no futuro. A doença, que era a sétima mais impactante para homens em termos de anos de vida produtiva perdidos (2001-2005), deve saltar para a terceira posição entre 2026-2030, atrás apenas de estômago e pulmão/traqueia. Para as mulheres, a projeção é de um salto da sexta para a terceira posição no mesmo período, atrás de mama e colo de útero.
O oncologista Paulo Hoff, presidente da Oncologia D’Or e diretor do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp), corrobora a tendência: “Num período de 10 anos, essa elevação tinha sido na ordem de 15%”. O médico Alexandre Jácome, líder nacional de oncologia gastrointestinal na Oncoclínicas, embora não tenha encontrado o mesmo padrão de estabilização em idosos e crescimento em jovens como nos EUA, destaca a necessidade de mais análises no Brasil para proteger essa população.
As Hipóteses para o Crescimento em Jovens
Os especialistas ainda não têm uma resposta definitiva para o aumento dos tumores colorretais em jovens, mas diversas hipóteses estão sendo investigadas. Samuel Aguiar Jr., líder do Centro de Referência de Tumores Colorretais do A.C. Camargo Câncer Center, descreve a situação como um “alerta mundial”: “Já virou normal ver pessoas jovens, de 35 ou 40 anos, chegarem no consultório com o diagnóstico desse tumor. Esse cenário preocupa, pois o impacto do câncer colorretal numa pessoa jovem é muito grande”.
Uma das principais teorias, segundo Paulo Hoff, está ligada à mudança no estilo de vida nas últimas décadas, com a transição de uma sociedade agrária para uma predominantemente urbana. Isso resultou em uma dieta baseada em produtos ultraprocessados, com menor consumo de alimentos naturais, e um estilo de vida mais sedentário. O sobrepeso e a obesidade, fatores de risco conhecidos para o câncer colorretal, também estão em ascensão.
Outra suspeita levantada pelos pesquisadores é o uso indiscriminado de antibióticos, tanto para tratamento humano quanto na produção pecuária. Essas mudanças ambientais e dietéticas podem estar alterando a microbiota intestinal e contribuindo para o desenvolvimento da doença em idades mais precoces.
Diagnóstico Precoce e Medidas Preventivas
Diante do aumento dos casos em jovens, os Estados Unidos já alteraram suas diretrizes de rastreamento. Desde 2021, exames preventivos são indicados para pessoas a partir dos 45 anos, antes restritos a maiores de 50. No Brasil, o Inca está debatendo um programa específico para essa doença, que deve ser lançado em breve.
Os dois principais exames para detecção precoce são o teste de sangue oculto nas fezes e a colonoscopia. O primeiro, de baixo custo e fácil realização, investiga a presença de sangue no cocô, sinalizando a necessidade de investigação. Já a colonoscopia, considerada o “padrão ouro” pela sua alta sensibilidade e capacidade de remover pólipos que podem virar câncer, é mais invasiva e possui menor disponibilidade de equipamentos e profissionais.
A estratégia proposta pelos especialistas é um “funil”: o exame de sangue oculto nas fezes seria a triagem para maiores de 45 anos. Aqueles com resultados positivos seriam então encaminhados para a colonoscopia. Essa abordagem otimiza recursos e foca os testes mais caros naqueles que realmente precisam de uma investigação mais aprofundada.
Apesar da preocupação, o prognóstico do câncer colorretal tem melhorado significativamente, graças aos avanços nas técnicas cirúrgicas e ao desenvolvimento de novos medicamentos, como quimioterápicos e imunoterápicos. “Quando esse tumor é detectado precocemente, as chances de cura ultrapassam os 95%“, afirma Paulo Hoff. Mesmo em casos avançados, a expectativa de vida aumentou consideravelmente. Portanto, a atenção aos sintomas e a busca por avaliação médica, independentemente da idade, são cruciais para um diagnóstico precoce e um tratamento eficaz.
Da redação com informações da BBC [GME-GOO-21072025-0825-25F]