Tecnologia

Um Incidente Histórico Impulsionou a China a Construir Seu Próprio Sistema Global de Navegação por Satélite

Um evento crítico durante a crise dos mísseis no Estreito de Taiwan, em 1996, é apontado como o catalisador para a decisão da China de desenvolver seu sistema independente de navegação e posicionamento por satélite. Um oficial aposentado do Exército de Libertação Popular (PLA) descreveu o ocorrido como uma “humilhação inesquecível” para as forças armadas chinesas, destacando o impacto profundo desse episódio na estratégia tecnológica do país.

O Incidente de 1996: Mísseis Desviados e a Dependência Exposta

Em 1996, a escalada das tensões entre Pequim e Taipé, desencadeada por propostas de “Estado a Estado” do então presidente taiwanês, levou o PLA a conduzir um exercício militar de grande escala. Durante essa demonstração de força, três mísseis foram lançados no Mar da China Oriental, próximos a uma base militar. Embora o primeiro míssil tenha atingido o alvo, os dois subsequentes desapareceram do radar.

A análise militar chinesa sugeriu que a perda de rastreamento poderia ter sido causada por uma interferência dos Estados Unidos no sinal do sistema GPS. Àquela época, a China dependia exclusivamente do GPS, que é controlado pelo governo norte-americano e pode ter seu uso restrito por razões estratégicas. A percepção de vulnerabilidade foi um choque. O coronel aposentado, cuja identidade não foi revelada, afirmou que “Foi uma grande vergonha para o PLA. Aprendemos da pior forma que não podíamos depender de sistemas estrangeiros“. Ele ressaltou ainda que “O Beidou se tornou uma necessidade nacional, não importando o custo”.

A Ascensão do Beidou: Autonomia e Capacidade Global

A partir desse momento decisivo, Pequim direcionou investimentos massivos para o desenvolvimento de seu próprio sistema de navegação: o Beidou. Atualmente, o Beidou opera com uma constelação de mais de 30 satélites e oferece cobertura praticamente global. Inicialmente, a China considerou a possibilidade de integrar-se ao programa europeu Galileo, mas abandonou a ideia devido à lentidão no progresso do projeto europeu, optando pela autonomia total.

Em operação desde o início da década de 2010, o Beidou serve tanto a aplicações civis quanto militares. Para o PLA, o sistema representa um pilar estratégico fundamental: ele permite a navegação de precisão para aeronaves, navios e mísseis de cruzeiro, mesmo em ambientes de guerra eletrônica, eliminando a dependência de infraestruturas ocidentais. Analistas de defesa, como Andrei Chang, editor da revista Kanwa Defence Review, destacam que “o sistema chinês oferece maior confiabilidade e eficácia na navegação e posicionamento das forças armadas”, um fator crucial em contextos de conflito.

Além do Beidou, a China desenvolveu outras ferramentas avançadas de rastreamento, como o navio Yuanwang, especializado em monitoramento de mísseis e satélites. O general aposentado Xu Guangyu afirmou que, com essas capacidades, “os Estados Unidos não têm mais qualquer possibilidade de interferir nas operações do PLA usando o GPS”. A construção do Beidou, que consumiu mais de duas décadas e bilhões em investimentos, é vista por Pequim como uma vitória estratégica silenciosa. Nascida de uma vulnerabilidade, essa iniciativa foi transformada em uma vantagem competitiva em um cenário geopolítico cada vez mais disputado, exemplificando a importância da soberania tecnológica em sistemas críticos.

Da redação com informações de SMCP
[GME-GOO-22072025-0005-25F]

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