Ciências

Cientistas Criam “Janela” Para a Mente Humana com Nova Tecnologia de Ultrassom Cerebral

Por séculos, o cérebro humano tem sido a fronteira final da ciência: a fonte de nossa curiosidade e, ao mesmo tempo, seu objeto mais complexo. Entender como ele funciona em um laboratório é um desafio, mas compreender sua atividade durante a vida cotidiana, “na selva”, parecia quase impossível. Agora, cientistas na Holanda desenvolveram uma tecnologia que abre uma janela literal para a mente, permitindo escanear o cérebro em tempo real enquanto uma pessoa se move. A técnica, no entanto, vem com uma condição drástica: é preciso primeiro abrir cirurgicamente uma pequena abertura no crânio do paciente.

A nova tecnologia, chamada de imagem por ultrassom funcional (fUSi), promete uma revolução na neurociência. Publicada na revista Science Advances, a pesquisa detalha como é possível monitorar o cérebro com uma precisão sem precedentes, abrindo caminho para novos tratamentos para distúrbios como a depressão e para tornar cirurgias cerebrais mais seguras. O método, porém, levanta um debate sobre os limites da pesquisa e o preço do conhecimento.

O Que é o Ultrassom Funcional e Por Que Ele é Superior?

Em sua essência, o fUSi utiliza o mesmo princípio de um ultrassom pré-natal: ondas sonoras de alta frequência mapeiam as estruturas internas do corpo. No caso do cérebro, a tecnologia foi adaptada para medir as mudanças no fluxo sanguíneo, que servem como um indicador da atividade dos neurônios. Embora seja mais invasivo que outras técnicas, o fUSi oferece vantagens únicas.

Diferente do eletroencefalograma (EEG), que mede a atividade elétrica de forma superficial no couro cabeludo, o ultrassom funcional alcança regiões mais profundas. E, ao contrário da ressonância magnética funcional (fMRI), que exige que o paciente permaneça imóvel dentro de uma máquina enorme e barulhenta, o fUSi permite o movimento. Isso significa que, pela primeira vez, os cientistas podem estudar o que acontece no cérebro enquanto uma pessoa caminha, fala ou interage com o ambiente, oferecendo uma precisão e profundidade que as outras técnicas simplesmente não conseguem.

A “Janela” no Crânio: O Custo do Conhecimento

Para que as ondas de ultrassom forneçam dados claros, é preciso contornar o osso do crânio, que as distorceria. A solução encontrada pelos pesquisadores do Erasmus University Medical Center foi criar uma “janela” de plástico de grau médico, implantada cirurgicamente no crânio do participante. Para manter a sonda de ultrassom no lugar durante o movimento, a equipe desenvolveu um capacete customizado, impresso em 3D.

A ideia de uma cirurgia para abrir uma janela na cabeça pode parecer extrema, mas a neurocirurgiã Sadaf Soloukey, principal autora do estudo, afirma que os pacientes têm se mostrado dispostos a participar. “Principalmente porque eles querem ajudar a ciência, mas também porque veem um benefício potencial… então, estão dispostos a fazer algo que é um pouco incomum”, explica.

O Futuro: Um “Wearable” Cerebral Para Tratar a Depressão?

As possibilidades futuras são o que mais animam os pesquisadores. A longo prazo, a tecnologia pode ser miniaturizada. A janela no crânio poderia ser reduzida ao tamanho de uma moeda de dez centavos, e o capacete, substituído por um pequeno dispositivo implantável capaz de monitorar o cérebro 24 horas por dia, 7 dias por semana.

Essa monitorização contínua em um ambiente natural poderia ser revolucionária para o tratamento de transtornos mentais. Em vez de depender de relatos subjetivos, os médicos poderiam analisar dados cerebrais reais para entender o que desencadeia um episódio depressivo, por exemplo, e ajustar medicamentos ou terapias com uma precisão inédita. A “janela para a mente” ainda é uma tecnologia em sua infância, com barreiras éticas e técnicas a serem superadas. No entanto, ela representa um passo audacioso na jornada para desvendar os segredos do cérebro, nos lembrando que, às vezes, para enxergar mais longe, a ciência precisa primeiro ousar abrir novos caminhos — mesmo que, literalmente, em nossos próprios crânios.

Da redação do Movimento PB, com informações do portal Popular Mechanics e da revista Science Advances

Redação do Movimento PB [GME-GOO-31072025-1537-15P]

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