Wplace: o mural digital brasileiro que virou megafone pixelado para o mundo
Plataforma colaborativa criada por três jovens no Brasil já reúne milhões de usuários e transforma o mapa virtual em palco de protestos, rivalidades e cultura pop
O Wplace, lançado em 21 de julho por Enzo Watanabe, Lucas Teruo Yamashita e Murilo Matsubara, tornou-se em poucas semanas um fenômeno global. Inspirado no r/Place, do Reddit, o site oferece um painel virtual de mais de 1 trilhão de pixels, onde qualquer pessoa pode deixar sua marca. O que começou como um jogo digital evoluiu rapidamente para um espaço de expressão coletiva — artístico, político e até geopolítico.
Explosão de acessos e instabilidade
Em menos de três semanas, o Wplace saltou de 100 mil usuários para mais de 1 milhão. A escalada surpreendeu os próprios criadores, que enfrentaram instabilidades, lentidão e até apagões de servidores para manter o serviço ativo.
Dinâmica de jogo
O diferencial do Wplace está na combinação de painel colaborativo com mecânicas de videogame. Cada jogador ganha 62 pixels ao criar a conta e recupera 1 a cada 30 segundos. Ao pintar, sobe de nível, amplia seu limite de pixels e acumula “droplets”, moeda virtual que pode ser obtida tanto por atividade quanto por compras em dinheiro real.
Brasil domina o mapa
No mapa de São Paulo, quase não há espaços vazios: torcidas de Corinthians, Palmeiras e São Paulo marcaram território em grandes blocos. Já em Brasília, a enorme bandeira brasileira virou espaço de disputas políticas, recebendo mensagens contra o STF, provocações internacionais como “7–1” e até bandeiras de outros países.
Protestos e geopolítica
O Wplace rapidamente extrapolou o entretenimento. Em Washington, bandeiras brasileiras e símbolos do PIX foram usados como protesto contra tarifas impostas pelo governo dos EUA. No conflito Israel–Palestina, usuários cobriram a Faixa de Gaza com corações em apoio à população local, enquanto Tel-Aviv foi tomada por uma mancha preta de críticas ao premiê Netanyahu. Movimentos como o “Void” — expansão de grandes manchas escuras sobre áreas específicas — também ganharam força.
Entre cultura pop e moderação
Nem tudo é política. Animes, games, futebol e ícones da cultura pop ocupam grandes blocos do mapa, reforçando o caráter de mural global. Ainda assim, os criadores impuseram limites: proibição de conteúdo pornográfico, discurso de ódio ou vandalismo puro. A regra central é clara — não destruir artes alheias sem propósito.
De painel a palco global
O sucesso do Wplace mostra como um simples mosaico de pixels pode se transformar em megafone digital. Ao mesmo tempo que cria espaço para arte e colaboração, a plataforma também se tornou palco de protestos, rivalidades e disputas culturais. O painel, longe de ser estático, é agora um reflexo pixelado do mundo — vivo, caótico e em constante transformação.
Reportagem adaptada
[CPT-OAI-170825-1707-PG5T]