O feitiço virou contra o feiticeiro: Trump admite a Lula que tarifaço fez EUA ‘sentirem falta’ do café brasileiro
Em telefonema, presidente americano reconhece o impacto da própria medida no bolso do consumidor dos EUA, onde o preço do café disparou. Medida, que era para ser uma pressão política, vira trunfo para a diplomacia de Lula.
A pressão virou bumerangue, e o alvo principal foi o cafezinho na mesa do americano. Em uma conversa por telefone nesta segunda-feira (6), o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, admitiu ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva que seu país está “sentindo falta” de produtos brasileiros, citando especificamente o café. A confissão é o reconhecimento mais claro até agora de que o tarifaço de 50%, imposto por Washington como uma arma de pressão política, acabou ricocheteando e atingindo em cheio a economia e o cotidiano dos próprios americanos, que viram o preço de sua bebida favorita disparar.
O telefonema, que marca uma nova e pragmática fase na relação entre os dois líderes, expôs a dependência dos EUA em relação ao Brasil. Sendo o maior consumidor e importador de café do mundo, os Estados Unidos têm no Brasil seu principal fornecedor. A tarifa de 50% sobre o produto brasileiro agiu como gasolina na fogueira da inflação. Em agosto, primeiro mês de vigência da taxa, o preço do café para o consumidor americano registrou a maior alta mensal em 14 anos, subindo 3,6%. Na comparação anual, o aumento é de alarmantes 20,9%, um recorde desde 1997, segundo dados oficiais americanos.
Para o Brasil, o impacto inicial da medida foi devastador. Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) mostram o tamanho do baque para os cafeicultores. Em setembro, as exportações de café para os EUA despencaram: a quantidade enviada caiu quase pela metade (-47%) e, em valores, a queda foi de 31,5%. O resultado foi um déficit de US$ 1,77 bilhão na balança comercial com os americanos no mês passado, um número que Lula fez questão de mencionar a Trump durante a conversa.
A conversa, que segundo o Planalto ocorreu a pedido do lado americano, foi descrita como “amistosa” e durou cerca de 30 minutos. Ela dá sequência à reaproximação iniciada durante a Assembleia da ONU em Nova York, quando ambos os líderes relataram uma “boa química”. Agora, o diálogo avança para o campo prático. Trump designou o Secretário de Estado, Marco Rubio, para negociar diretamente com uma equipe brasileira liderada pelo vice-presidente Geraldo Alckmin e pelo ministro Fernando Haddad. Ambos os presidentes concordaram em se encontrar pessoalmente em breve, com Lula sugerindo a Cúpula da Asean, na Malásia, ou a COP30, em Belém, como possíveis palcos para a reunião.
O episódio do café é uma aula de pragmatismo na geopolítica. A tarifa, originalmente concebida por Trump como uma ferramenta para pressionar o Brasil no contexto da condenação de Jair Bolsonaro, revelou-se um tiro no pé. A medida não alterou o desfecho judicial do ex-presidente, mas criou um problema doméstico para Trump, irritando o eleitorado com a alta de um produto de consumo diário. Para Lula, a situação se transformou em um trunfo diplomático. A confissão de Trump não é apenas sobre café; é o reconhecimento de que, em um mundo interligado, a força bruta da pressão econômica tem limites, especialmente quando o outro lado da mesa detém um produto essencial que o seu próprio povo não está disposto a abrir mão.
Redação do Movimento PB
Redação do Movimento PB [NMG-OGO-07102025-X1Y7Z2-13P]
