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O fim do feed pessoal: Por que estamos abandonando as redes sociais e caminhando para a era das ‘postagens zero’?

Saturados por anúncios e conteúdo de influenciadores, usuários, especialmente a Geração Z, estão deixando de compartilhar suas vidas publicamente, transformando o Instagram e o TikTok em uma nova versão da TV.

Houve um tempo, não muito distante, em que nossos feeds de redes sociais eram um espelho (imperfeito, mas reconhecível) de nossas vidas e das vidas de nossos amigos. Fotos de viagens, o almoço de domingo, o primeiro passo de um sobrinho. Hoje, esse mesmo espaço é um shopping center infinito, abarrotado de anúncios, influenciadores vendendo produtos e um fluxo interminável de “conteúdo” genérico empurrado por algoritmos. Em meio a esse barulho, uma nova e silenciosa tendência emerge: as pessoas estão, simplesmente, parando de postar. E isso pode mudar para sempre a nossa relação com a internet.

A tese é defendida pelo escritor Kyle Chayka, jornalista da revista The New Yorker, que cunhou o termo “postagens zero”. Para ele, estamos nos aproximando de um ponto de inflexão onde as pessoas comuns percebem que não há mais vantagem em compartilhar suas vidas online. Pesquisas recentes corroboram essa percepção: cerca de um terço dos usuários de redes sociais postam menos do que há um ano, uma tendência ainda mais forte entre os jovens da Geração Z.

O motivo, segundo Chayka, é que as redes sociais deixaram de ser “sociais”. Elas se tornaram uma plataforma de consumo passivo, muito mais parecida com a televisão do que com uma praça pública digital. “Se as plataformas estão perdendo o foco na vida normal das pessoas e as pessoas normais não se sentem mais incentivadas a publicar, as redes sociais passam a ser como a televisão”, analisa ele. O conteúdo orgânico e autêntico deu lugar a uma commodity impessoal, focada em aspirações de estilo de vida, fast fashion e publicidade.

Para quem não é da área, podemos simplificar alguns termos…

Quando falamos de redes sociais, dois conceitos são chave. O “algoritmo” é o “cérebro” da plataforma; um sistema de regras que decide o que você vai ver no seu feed, baseado no que você curte, compartilha e assiste. O objetivo dele é te manter engajado o máximo de tempo possível para te mostrar mais anúncios. Já o “conteúdo orgânico” é tudo aquilo que é postado de forma espontânea por pessoas comuns, como seus amigos e familiares. A crise atual é que os algoritmos estão priorizando o conteúdo profissional e pago em detrimento do conteúdo orgânico, que era a alma original das redes sociais.

A migração para o privado: a conexão humana busca refúgio

A necessidade humana de se conectar não desapareceu; ela apenas mudou de endereço. O que antes era compartilhado em um post público no Instagram, agora é enviado em uma mensagem direta para um amigo próximo ou em um grupo de WhatsApp. “Estamos nos movendo para uma forma mais privada, mais íntima de conexão online”, afirma Chayka. As plataformas que temos hoje, focadas em anunciantes, não querem mais desempenhar o papel de conectar amigos. Elas apostam que o conteúdo gerado por humanos será gradualmente substituído por material gerado por Inteligência Artificial, que é infinito, barato e, nas palavras de Chayka, “inexpressivo”.

A Geração Z, que cresceu sob os holofotes digitais, parece ter aprendido com os erros das gerações anteriores. Os anos 2010 foram marcados por casos de constrangimento viral e linchamentos virtuais que expuseram as desvantagens de uma vida excessivamente pública. O contrato social mudou. “O acordo era que, se você colocasse conteúdo, você poderia atrair um público em massa. Mas isso se torna um círculo vicioso que acaba sendo toda a sua vida”, explica o autor. Para quem não quer ser um influenciador profissional, os riscos de postar se tornaram grandes demais, e as vantagens, pequenas demais.

O futuro de nossas interações sociais digitais, segundo Chayka, se assemelhará cada vez mais à TV: um fluxo de mídia profissionalizada e consumo passivo. Mas há uma luz de esperança nesse cenário. Talvez o pico das redes sociais e sua subsequente queda tenham servido para um propósito maior: nos lembrar do valor insubstituível da vida real. “Acho que esse pico das redes sociais serviu mais para criar um desejo de interação entre as pessoas e nos fez lembrar o valor de realmente compartilhar coisas na vida real”, conclui Chayka. Talvez a era das “postagens zero” seja, no fim das contas, o início de uma era com mais conversas cara a cara.

Redação do Movimento PB

Redação do Movimento PB [NMG-OGO-07102025-D4E1F8-13P]