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Ciência brasileira no topo do mundo: Nobel de Física de 2025 só foi possível graças a modelo criado por cientista da Unicamp

Amir Caldeira, físico brasileiro, é coautor do modelo “Caldeira-Leggett”, a base teórica que permitiu ao trio de laureados provar que as estranhas leis quânticas também se aplicam em escalas maiores, abrindo caminho para a computação do futuro.

O Prêmio Nobel de Física de 2025, concedido nesta semana ao trio John Clarke, Michel H. Devoret e John Martinis, carrega em seu DNA uma contribuição fundamental da ciência brasileira. Os experimentos que levaram à premiação, que provaram a validade dos princípios quânticos em sistemas maiores que o nível atômico, só foram possíveis graças ao modelo teórico “Caldeira-Leggett”. E o “Caldeira” dessa equação é o físico Amir Ordacgi Caldeira, professor titular da Unicamp e um dos cientistas mais respeitados do Brasil, bolsista do CNPq há 43 anos.

A presença do nome do brasileiro no referencial teórico divulgado pelo Comitê do Nobel não é um detalhe, mas o reconhecimento de uma peça-chave no quebra-cabeça quântico. O trabalho de Caldeira, desenvolvido nos anos 80 junto a seu orientador Anthony Leggett (ele mesmo um Nobel de Física em 2003), forneceu o mapa matemático necessário para que os experimentalistas pudessem construir e interpretar seus resultados. É a prova de que a ciência de ponta é feita de uma simbiose entre a teoria genial e o experimento rigoroso, e o Brasil está no centro dessa equação.

Para quem não é da área, podemos simplificar alguns termos…

A física quântica descreve um mundo “estranho” onde as regras que conhecemos não se aplicam. Partículas podem estar em dois lugares ao mesmo tempo (superposição) ou atravessar paredes (tunelamento). Por muito tempo, acreditava-se que essa “estranheza” só existia no mundo microscópico dos átomos. O que os ganhadores do Nobel fizeram foi provar que esses efeitos também ocorrem em uma escala intermediária, a escala mesoscópica (maior que um átomo, mas ainda invisível a olho nu), como em um circuito elétrico. O problema é que, quando um sistema quântico interage com o ambiente, ele perde sua “estranheza” e passa a se comportar de forma clássica (o processo de decoerência). O modelo Caldeira-Leggett foi o primeiro a descrever matematicamente como essa interação acontece, permitindo que os cientistas criassem experimentos para observar os fenômenos quânticos antes que eles “desaparecessem”.

A pujança da ciência brasileira na rota quântica

O trabalho do trio laureado foi justamente cruzar essa fronteira. Eles construíram um circuito elétrico supercondutor e, usando o arcabouço teórico de Caldeira-Leggett, conseguiram observar o tunelamento quântico em um sistema com bilhões de elétrons, provando que a mecânica quântica não é uma exclusividade do mundo subatômico. “O prêmio Nobel de 2025 evidencia a importância da mecânica quântica para sistemas mais gerais do que aqueles para os quais a teoria havia sido originalmente desenvolvida”, explicou o próprio professor Caldeira ao CNPq.

O reconhecimento internacional da contribuição de Amir Caldeira não é um fato isolado e reforça a excelência da física brasileira no cenário global. Olival Freire Jr., diretor científico do CNPq, destaca que a menção a Caldeira, assim como a de outros pesquisadores brasileiros em prêmios Nobel anteriores, “expressa a pujança da ciência brasileira na rota das tecnologias quânticas”. É um selo de qualidade que nos coloca na vanguarda de uma revolução que moldará o futuro, desde a computação até a criptografia.

A notícia do Nobel, portanto, é duplamente celebrada na Paraíba e no Brasil. Ela não apenas premia uma descoberta que redefine os limites do nosso conhecimento, mas também ilumina o rosto de um dos cientistas brasileiros que tornou essa descoberta possível. É a confirmação de que a ciência nacional não é apenas espectadora, mas protagonista na construção do futuro, um futuro que, como vimos recentemente com o anúncio do primeiro computador quântico do país na Paraíba, está cada vez mais próximo da nossa realidade.

Redação do Movimento PB

Redação do Movimento PB [NMG-OGO-10102025-C9D1B4-13P]