O Campo e a Direita: Desvendando a Conexão Histórica e Política do Agronegócio

A associação entre o agronegócio e as ideologias políticas de direita é uma observação comum e, de fato, historicamente fundamentada em diversas partes do mundo, incluindo o Brasil. Não se trata de uma regra absoluta, mas de uma tendência predominante que se explica por uma confluência de fatores econômicos, sociais e filosóficos.
Raízes Históricas e a Defesa da Propriedade
Historicamente, a posse da terra tem sido um pilar do poder econômico e político. Em muitas sociedades, os grandes proprietários de terras — desde os latifundiários feudais até os barões do café ou da pecuária moderna — formaram uma elite que defendia seus interesses. Essa defesa se traduz, frequentemente, na proteção irrestrita da propriedade privada, um valor central para o pensamento de direita. A ideia de que a terra, conquistada ou herdada, é um direito intocável e que o Estado deve intervir minimamente em sua gestão, ressoa profundamente nesse segmento.
Liberalismo Econômico e Menos Estado
O agronegócio, em sua essência moderna, opera em larga escala, buscando eficiência e lucratividade. Isso o alinha com os princípios do liberalismo econômico, que preconizam a redução da burocracia estatal, menos impostos, desregulação e abertura de mercados. A visão de que o Estado deve ser um facilitador e não um interventor — especialmente em questões como reforma agrária, ambientalismo restritivo ou taxação de grandes fortunas — encontra eco na direita política. Há uma crença de que a livre iniciativa e a competitividade são os motores do progresso, e qualquer restrição a esses princípios é vista como um entrave.
Tradição, Ordem e os Valores Conservadores
Além dos aspectos puramente econômicos, há uma dimensão social e cultural. As comunidades rurais, muitas vezes, são associadas a valores mais tradicionais e conservadores, como a família, a religião e a ordem social. Essa base de valores pode se traduzir em apoio a pautas políticas que buscam preservar costumes e estruturas sociais existentes, o que frequentemente converge com a agenda da direita. A ideia de progresso gradual, em oposição a mudanças sociais radicais, também faz parte dessa perspectiva.
O Agronegócio como Força Política no Brasil
No Brasil, essa conexão é particularmente evidente. A chamada “bancada ruralista” no Congresso Nacional é um dos blocos mais influentes, atuando ativamente na defesa dos interesses do setor. Suas pautas incluem a flexibilização de leis ambientais, a oposição à demarcação de terras indígenas e quilombolas, e a resistência a projetos de reforma agrária. No Nordeste, historicamente marcado por grandes propriedades e estruturas fundiárias concentradas, a influência de grupos ligados à terra também tem sido um fator importante na política regional, embora com suas próprias particularidades e embates sociais.
É importante notar que essa associação não é monolítica. Existem produtores rurais com visões progressistas e setores do agronegócio que buscam inovações sustentáveis. No entanto, o peso histórico e a dominância de uma agenda política específica, focada na propriedade, no livre mercado e em valores conservadores, consolidaram a percepção de que o agronegócio e a direita política caminham, em grande parte, de mãos dadas.
Da redação do Movimento PB.
