Geração Z e a Sexualidade: Jornalista Desvenda os Fatores por Trás de uma Nova Relação com a Intimidade

A forma como a Geração Z se relaciona com a sexualidade tem gerado debates e especulações. Longe de ser um fenômeno simples, a redução da atividade sexual entre os nascidos entre 1997 e 2010 é um reflexo de uma complexa interação de fatores políticos, sociais e tecnológicos. Para ir além das hipóteses, a jornalista norte-americana Carter Sherman mergulhou nesse universo, entrevistando mais de cem jovens para seu livro The Second Coming: Sex and the next generation’s fight over its future, revelando que a política, as escolas e as redes sociais são pilares fundamentais dessa nova realidade.
Dados do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos EUA, de 2021, já indicavam que apenas 30% da Geração Z havia tido relações sexuais, um número que, embora baixo, é uma continuidade de uma tendência observada em gerações anteriores. Longe de um conservadorismo puritano ou de mera ‘frescura’, a pesquisa de Sherman aponta para uma redefinição profunda do que significa ser sexualmente ativo na contemporaneidade.
O Pessoal é Profundamente Político: A Influência da Conjuntura Atual
O antigo lema feminista de que ‘o privado é político’ ressoa de forma contundente com a Geração Z. Sherman observa que, mesmo sem uma elaboração teórica formal, esses jovens sentem os entraves impostos por um cenário político e social cada vez mais conservador. A derrubada de direitos como o aborto nos EUA (Roe v. Wade), as ameaças a conquistas LGBTQIA+ e uma educação sexual baseada predominantemente na abstinência criam um ambiente de medo, insegurança e vergonha.
A jornalista destaca que a sociedade e a política frequentemente definem os termos do sexo, impondo padrões heteronormativos, brancos e com foco na procriação. Tudo que foge a essa norma é estigmatizado como perigoso, afastando os jovens de uma vivência sexual livre e plena. “As pessoas querem dizer que sexo não é afetado pela política ou pelas comunidades em que vivemos. Mas os termos do sexo são muitas vezes definidos pelo que acontece tanto nas reuniões do conselho escolar quanto em tribunais e nas leis”, pondera Sherman, sublinhando a interconexão entre o macro e o micro.
A Distorção das Telas: Redes Sociais e a Busca pela Perfeição
Crescer em um mundo hiperconectado, com métricas constantes de ‘desejabilidade’ (likes, seguidores, matches em aplicativos), moldou a percepção da Geração Z sobre si mesma e sobre o sexo. As redes sociais, embora ampliando discussões sobre gênero e sexualidade, também geraram uma incessante competição e a ‘consciência do valor sexual’.
Sherman notou que essa idealização leva à auto-objetificação e a pressões insustentáveis por uma perfeição física, resultando em distúrbios mentais, emocionais e alimentares. A consequência é a aversão ao contato físico real e a evitação da vulnerabilidade. “Se você precisa ser perfeito para tirar a roupa na frente de alguém, então você provavelmente não vai acabar ficando pelado com ninguém”, afirma a autora, explicando como a pressão digital se traduz em menos intimidade offline.
O Preço da Pandemia: Ritos de Passagem Perdidos e a Sexualidade Digitalizada
A pandemia de COVID-19 impactou profundamente a Geração Z, privando-a de ritos de passagem cruciais para o desenvolvimento social e emocional. A ausência de festas, encontros e interações presenciais empurrou o convívio social, e por consequência o sexual, para o ambiente digital. Sextings, nudes, pornografia e sexo à distância tornaram-se intermediadores da intimidade.
Embora o discurso sexual estivesse em alta, a prática física diminuiu. Para Sherman, essa mediação digital, ao mesmo tempo que oferece novas formas de expressão, pode dificultar a construção de relações sexuais, românticas e platônicas genuínas, baseadas na vulnerabilidade e na conexão real.
Desejos Genuínos e o Ativismo por um Futuro Mais Livre
Apesar dos desafios, a pesquisa de Sherman revela um desejo autêntico da Geração Z por uma vida sexual plena, lúdica, pautada pelo consentimento, erotismo e prazer mútuo. Os jovens estão cientes dos riscos, como gravidez indesejada e infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), mas buscam formas de vivenciar a sexualidade de maneira mais autêntica e segura.
A boa notícia é que a Geração Z não está passiva diante desse cenário. Há um crescente movimento de jovens ativistas lutando contra a violência sexual, pelos direitos LGBTQIA+ e pelo acesso ao aborto. A internet, que apresenta desafios, também se mostra uma ferramenta poderosa para a conscientização e a mobilização. “Por causa da internet, são pessoas que entenderam muito mais cedo do que eu que sexo tem dimensões políticas. Então, estão usando esse conhecimento para tentar melhorar os recursos disponíveis a elas e seus colegas”, conclui Sherman, apontando para um futuro onde a Geração Z busca, ativamente, moldar sua própria revolução sexual.
Da redação do Movimento PB.
