Gigantes da IA Chinesa Reconfiguram Mapa Tecnológico Global em Busca de Chips Avançados

A corrida global pela inteligência artificial ganha um novo e estratégico capítulo. Gigantes tecnológicas chinesas como Alibaba e ByteDance estão transferindo o treinamento de seus modelos de IA mais sofisticados para data centers localizados fora da China, com destaque para regiões como Singapura e Malásia.
Essa manobra geopolítica é uma resposta direta à necessidade de manter acesso a chips avançados da Nvidia, cuja exportação para a China foi severamente restringida por Washington e, por outro lado, às exigências de Pequim para que data centers financiados pelo Estado utilizem exclusivamente chips domésticos.
O Dilema dos Chips e a Fuga Estratégica
Desde a imposição de restrições pelos Estados Unidos, que visam impedir o avanço chinês em IA de ponta, o treinamento offshore tornou-se uma solução acelerada. Empresas passaram a alugar poder computacional em localidades onde a operação com Unidades de Processamento Gráfico (GPUs) de última geração ainda é legal.
Um operador baseado em Singapura resumiu a situação: “Para desenvolver modelos avançados, você precisa dos melhores chips. Aqui, tudo está dentro da lei.” Essa declaração ilustra a complexidade do cenário, onde a inovação tecnológica se entrelaça com as tensões comerciais e de segurança nacional.
Pressão Dupla: Washington e Pequim
O movimento das empresas chinesas é resultado de uma pressão vinda de duas frentes:
- Estados Unidos: Continuam a ampliar as restrições para frear o desenvolvimento chinês em IA de ponta.
- China: Exige que data centers com financiamento estatal utilizem exclusivamente chips produzidos localmente.
No final de novembro, as autoridades reguladoras chinesas intensificaram essa política, proibindo a ByteDance de instalar GPUs Nvidia em novos data centers dentro do território chinês. Contudo, o avanço dos grandes modelos de IA chineses não desacelera. O Qwen, da Alibaba, mantém-se como um dos modelos corporativos mais robustos do país, enquanto o Doubao, da ByteDance, já alcança 157 milhões de usuários ativos mensais e ganha destaque global como código aberto.
A Exceção e a Adaptação Doméstica
Nem todas as empresas seguiram o mesmo caminho. A DeepSeek, por exemplo, conseguiu estocar chips Nvidia antes da implementação das proibições e continua a treinar seus modelos dentro da China. Simultaneamente, a empresa colabora com fabricantes locais, como a Huawei, no desenvolvimento de chips de próxima geração, buscando soluções internas para a escassez de hardware importado.
Sudeste Asiático: O Novo Santuário da IA
Singapura e Malásia emergiram como refúgios ideais para empresas que necessitam de treinamento de IA em larga escala, oferecendo um ambiente propício devido a:
- Estabilidade regulatória;
- Conectividade ultrarrápida;
- Custos operacionais mais competitivos;
- Rápida expansão de data centers de hiperescala.
A capacidade de Johor, na Malásia, uma região estratégica adjacente a Singapura, tem visto um crescimento explosivo com a aprovação de dezenas de novos projetos. Essa região se apresenta como uma alternativa natural para empresas pressionadas por restrições geopolíticas e limitações de infraestrutura.
Chips de Ponta Ainda Fora de Alcance
Embora em um movimento posterior de flexibilização, Washington tenha permitido à Nvidia e à AMD retomarem as vendas do chip H20 para a China — mediante uma porcentagem da receita ao governo americano —, os componentes mais avançados permanecem inacessíveis. Chips como os Blackwell B200 e outras GPUs de máxima performance continuam barrados por justificativas de segurança nacional.
O Futuro da IA: Uma Questão Geopolítica
A estratégia de Alibaba e ByteDance sublinha uma verdade inegável: a corrida pela inteligência artificial não será definida apenas por quem detém mais dados ou engenheiros. A capacidade de acessar computação de ponta em um cenário geopolítico cada vez mais restritivo será o fator decisivo. O treinamento offshore é um sintoma claro de que a IA transcendeu a esfera puramente tecnológica, tornando-se um campo vital da geopolítica global. Aqueles que souberem navegar por este tabuleiro complexo moldarão o futuro da inovação.
Da redação do Movimento PB.