Inteligência Artificial Redefine Estratégias da Inglaterra para a Copa do Mundo de 2026

Avanços tecnológicos têm transformado diversas esferas da sociedade, e o futebol de elite não é exceção. A seleção inglesa, sob a hipotética liderança do técnico Thomas Tuchel, está na vanguarda da aplicação da Inteligência Artificial (IA) no cenário internacional masculino. De análises de cobranças de pênaltis e monitoramento do bem-estar dos atletas a táticas para desvendar as fraquezas dos adversários, a IA se consolida como um pilar fundamental nos planos dos Three Lions para a Copa do Mundo de 2026, que será realizada na América do Norte.
A Revolução dos Pênaltis e a Análise Tática Aprofundada
A equipe técnica da Inglaterra, que inclui não apenas treinadores e fisioterapeutas, mas também analistas, cientistas de dados e equipes de desenvolvimento de software internos, utiliza uma gama de ferramentas de IA. Algumas dessas ferramentas são adquiridas de empresas de tecnologia externas, enquanto outras são desenvolvidas pela própria Federação Inglesa de Futebol (FA).
O objetivo é claro: processar vastos volumes de dados, identificar informações cruciais e traduzi-las em apresentações compreensíveis para jogadores e comissão técnica. Essa abordagem visa capacitar os atletas a tomar decisões mais eficazes em campo, especialmente em momentos de alta pressão, como as cobranças de pênaltis.
Rhys Long, chefe de insights e análise de desempenho da FA desde 2016, destaca a capacidade da IA de revelar tendências de pênaltis de jogadores adversários que antes passariam despercebidas. “Quando chegamos a uma Copa do Mundo, temos informações de 47 equipes para perfilar – onde cada jogador de cada elenco cobrou cada pênalti desde os 16 anos”, explica Long. O que antes levava cinco dias para coletar dados de uma única equipe, agora pode ser feito em cerca de cinco horas com a IA, transformando-se em uma conversa de cinco minutos com o goleiro, na esperança de uma defesa decisiva.
Essa precisão se reflete em campo. O goleiro Jordan Pickford, por exemplo, recebe informações detalhadas em sua garrafa de água, baseadas em análises complexas. O ex-jogador Conor Coady, que participou das Euro 2020 e Copa do Mundo de 2022, relata como a IA alivia a pressão mental. “Eles nos dizerem para onde ir tirou a pressão, porque era como se eles dissessem – ‘a responsabilidade é nossa'”, afirma Coady. A análise combina tendências dos goleiros adversários com as preferências de chute de cada jogador inglês.
Inglaterra na Vanguarda Tecnológica do Futebol
Nos últimos anos, o software de IA no futebol evoluiu drasticamente, permitindo o rastreamento de dezenas de milhares de movimentos por segundo, a identificação de padrões táticos em tempo real e a criação instantânea de gráficos. Embora nações como Espanha, França e Argentina tenham obtido mais sucesso recente em torneios, Inglaterra, Alemanha e EUA são amplamente reconhecidas por estarem na linha de frente do uso da IA para obter vantagem competitiva.
“A Inglaterra tem muitos recursos e investiu pesadamente nisso”, observa Allistair McRobert, professor de análise de desempenho na Universidade John Moores de Liverpool. Ele destaca a presença de engenheiros de dados, analistas e especialistas em desempenho em todas as categorias da seleção. Em St George’s Park, centro de treinamento da seleção, uma sala de reunião interativa com telas sensíveis ao toque e painéis táticos em 3D permite que os jogadores se envolvam ativamente na discussão de novas ideias táticas.
Bem-Estar dos Atletas Potencializado pela IA
A IA não se limita ao campo de jogo; ela também é uma ferramenta crucial no monitoramento do bem-estar dos jogadores. “A IA está revelando coisas – ela pode analisar o que está tendo um efeito físico, tático ou técnico em um jogador”, explica Rhys Long. A tecnologia pode identificar padrões nos dados de bem-estar coletados dos atletas que impactam seu treinamento.
Esse processo, que antes levava dias para ser concluído, agora é reduzido a horas, e a projeção é que em breve leve apenas minutos. Coady descreve a rotina: “Você acorda todas as manhãs e, ao ir para o café da manhã, há uma área de bem-estar onde você preenche um formulário em um iPad. ‘Como você dormiu? Como se sentiu esta manhã? Está fatigado?'” Com base nessas informações, a equipe adapta o treinamento, a alimentação e as sessões para as necessidades individuais de cada atleta.
O Futuro da IA no Futebol: Desafios e Limitações
A proliferação de novas empresas de tecnologia de IA e o alto custo de softwares podem, no entanto, criar uma disparidade. Uma única ferramenta pode custar centenas de milhares de libras, levantando a preocupação de que nações com menos recursos financeiros fiquem para trás. “Acho que a IA vai ampliar a lacuna”, afirma Tom Goodall, analista da Islândia, que atua como o único analista em tempo integral de sua seleção e lida com orçamentos apertados.
Apesar do entusiasmo, Rhys Long ressalta que a IA não é uma “bala de prata”. “Trata-se de ter pessoas no esporte que realmente entendam como usar essa nova tecnologia muito bem”, diz ele. A tecnologia visa aumentar a capacidade de tomada de decisão humana, não substituí-la. “A IA não vai escolher o time e não vai jogar a partida”, enfatiza Long. No entanto, se utilizada de forma eficaz pelos treinadores para auxiliar os jogadores, ela pode se tornar uma vantagem competitiva significativa para “atravessar a linha de chegada”.
Da redação do Movimento PB.
