Escape rooms crescem no mundo, avançam no Brasil e deixam a Paraíba fora do jogo
Por Paulo Santos (sobre escape room em João Pessoa) — O mercado de escape rooms, também conhecidos como salas de jogos de fuga, tornou-se uma das principais expressões da chamada economia da experiência no mundo contemporâneo. Combinando narrativa, desafios lógicos, imersão sensorial e trabalho em equipe, o setor movimenta bilhões globalmente, expande-se nas grandes cidades brasileiras e, paradoxalmente, permanece ausente de forma estruturada na Paraíba — mesmo em um contexto de turismo crescente e busca por novas formas de lazer.
O que são escape rooms e por que esse mercado cresce
Os escape rooms são jogos presenciais em que grupos de participantes precisam resolver enigmas, decifrar pistas e cumprir missões dentro de um tempo limitado para “escapar” de um ambiente temático. Surgidos no Japão no fim dos anos 2000, esses jogos rapidamente se espalharam pelos Estados Unidos, Europa e Ásia, tornando-se um fenômeno cultural ligado ao entretenimento imersivo.
Em 2025, o mercado global de escape rooms é estimado entre US$ 8 bilhões e US$ 10 bilhões, com projeções que apontam para até US$ 30 bilhões até 2030. A expansão é impulsionada por fatores como o turismo de experiência, eventos corporativos, treinamentos de equipe, integração com tecnologias como realidade aumentada e narrativas cada vez mais sofisticadas.
Escape rooms no Brasil: um mercado consolidado
No Brasil, o setor começou a se estruturar a partir de 2015, com a chegada da rede Escape60 em São Paulo. Desde então, o país passou a contar com centenas de salas distribuídas por mais de 20 cidades, especialmente nos grandes centros urbanos do Sudeste e do Sul.
São Paulo e Rio de Janeiro concentram a maior parte das unidades, com redes nacionais, operações independentes e eventos recorrentes, como a Semana Nacional do Escape Room. O público é diversificado: famílias, jovens adultos, turistas e empresas que utilizam os jogos como ferramenta de team building.
Após a pandemia, o setor passou por uma retração temporária, mas retomou o crescimento com foco na experiência presencial, reforçando protocolos de segurança e ampliando o investimento em cenografia, roteiro e tecnologia.
Escape Room 60 existiu em João Pessoa, no bairro de Manaíra
Paraíba: um mercado que existiu e desapareceu
Apesar da expansão nacional, a Paraíba ocupa hoje um lugar de ausência no mapa dos escape rooms brasileiros. A única operação fixa registrada no estado foi a unidade da Escape60 em João Pessoa, inaugurada em 2019 no bairro de Manaíra. A sala funcionou por um curto período e encerrou as atividades entre 2020 e 2021, em meio aos impactos da pandemia da Covid-19.
Desde então, não há registro de salas comerciais permanentes de escape room em funcionamento na capital, em Campina Grande ou em outras cidades paraibanas. Em 2025, o estado permanece sem opções regulares desse tipo de entretenimento, restando apenas experiências pontuais em ambientes acadêmicos ou eventos temporários.
Por que João Pessoa ficou para trás em escape room?
A ausência de escape rooms na Paraíba não se explica por falta de público potencial. João Pessoa vive um momento de crescimento turístico, ampliação da rede hoteleira e valorização da economia criativa. Ainda assim, o setor não conseguiu se estabelecer de forma sustentável.
Especialistas apontam fatores como:
- Baixa diversificação do mercado de entretenimento indoor;
- Dificuldade de financiamento para negócios criativos;
- Falta de políticas públicas voltadas à economia da experiência;
- Dependência excessiva do turismo sazonal;
- Ausência de integração entre cultura, tecnologia e lazer.
Enquanto capitais como Recife, Fortaleza e Salvador mantêm operações ativas, João Pessoa permanece como um território inexplorado nesse segmento.
O potencial para escape rooms com identidade paraibana em João Pessoa
A inexistência atual de escape rooms no estado também revela uma oportunidade. A Paraíba possui um repertório cultural, histórico e simbólico capaz de alimentar narrativas originais para esse tipo de experiência.
Temas ligados à história do Centro Histórico de João Pessoa, à cultura popular, ao cangaço, à literatura de cordel, às tradições indígenas, ao imaginário do sertão e até à ciência e tecnologia produzidas nas universidades locais poderiam dar origem a jogos com identidade regional forte — algo valorizado no mercado contemporâneo.
Além disso, o setor poderia dialogar diretamente com:
- Turismo cultural e educacional;
- Eventos corporativos e universitários;
- Programas de inovação e startups;
- Políticas de economia criativa.
Economia da experiência e o vazio paraibano
O crescimento global dos escape rooms está inserido em um movimento mais amplo: a transformação do consumo em experiência. As pessoas não buscam apenas produtos, mas vivências memoráveis. Nesse cenário, a ausência desse tipo de oferta na Paraíba evidencia um descompasso entre o discurso de inovação e a realidade do mercado local.
Enquanto o Brasil consolida sua posição como um dos principais mercados latino-americanos de escape rooms, a Paraíba segue dependente de modelos tradicionais de lazer, perdendo a chance de atrair novos públicos e diversificar sua economia urbana.
Escape room João Pessoa: Um jogo que ainda pode começar
A história dos escape rooms no estado ainda não terminou — talvez sequer tenha começado de fato. O fechamento da única sala fixa não representa o fracasso do modelo, mas revela a fragilidade do ecossistema criativo local quando não há planejamento de longo prazo, apoio institucional e conexão entre cultura, tecnologia e mercado.
Num mundo em que experiências imersivas se tornam cada vez mais centrais, a ausência da Paraíba nesse tabuleiro diz menos sobre falta de demanda e mais sobre escolhas políticas, econômicas e estratégicas. O jogo segue em andamento. A pergunta é quando — e como — o estado decidirá entrar novamente na sala.
Paulo Santos é radialista graduado em designer gráfico e pós graduado em marketing digital. Escreve sobre cultura pop e tecnologia pessoal
