Ataques no Ceará forçam fechamento de provedores de internet e ameaçam setor nacional de banda larga

No Ceará, pelo menos cinco provedores de internet encerraram suas operações devido a ataques de grupos criminosos, segundo a Associação dos Provedores do Ceará (Uniproce). Outras dez empresas estão em processo de fechamento, impactando o setor de telecomunicações e podendo elevar os custos para os clientes. Os ataques, que incluem queima de carros, destruição de lojas e ameaças a funcionários, começaram em fevereiro e têm como objetivo o controle do serviço de internet em algumas regiões.

A Brisanet confirmou a ocorrência em Caucaia e disse que os funcionários não ficaram feridos.
Foto: Reprodução

A Brisanet, uma das maiores operadoras do Nordeste, afirmou em nota ao Diário do Nordeste que mantém suas atividades, apesar dos desafios de segurança na Grande Fortaleza. A empresa desmentiu boatos sobre interrupções, esclarecendo que a imagem de um veículo danificado gerou mal-entendidos. “Nosso foco é garantir a continuidade dos serviços e a segurança de equipes e clientes”, destacou.

Já a GPX Telecom, que operava há nove anos em Caucaia, na Região Metropolitana de Fortaleza, não resistiu. Em suas redes sociais, a empresa relatou que atos de vandalismo destruíram sua estrutura em menos de 20 minutos, levando ao encerramento das operações. “Esperamos justiça diante dessa situação alarmante”, declarou a GPX, que não respondeu a pedidos de mais informações do Diário do Nordeste.

A Polícia Federal foi chamada para investigar, mas a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) informou que não recebeu denúncias formais, classificando o caso como questão de segurança pública, fora de sua alçada regulatória. O Ceará conta com 1.116 provedores de banda larga autorizados, sendo 596 deles pequenos, com menos de cinco mil assinantes e uso de fibra óptica.

Leia Também:  Crise de Saúde Mental: Brasil Registra Recorde de Afastamentos por Ansiedade e Depressão em 2024

Estratégia das facções

Os criminosos, incluindo membros do Comando Vermelho, buscam dominar o mercado de telecomunicações em áreas específicas. Eles ameaçam empresas e exigem até 60% de seu faturamento para permitir a continuidade das operações. Em troca, prometem forçar moradores a contratar apenas os provedores “aprovados”, eliminando a concorrência.

Impacto no setor e nos clientes

O fechamento de pequenas operadoras afeta o cenário nacional, já que 60% da banda larga fixa no Brasil é fornecida por esses prestadores, segundo Cristiane Sanches, da Associação Brasileira de Provedores de Internet e Telecomunicações (Abrint). Seis empresas, como a GPX, foram diretamente impactadas no Ceará, especialmente em Caucaia e São Gonçalo do Amarante, onde bairros inteiros ficaram sob controle de facções. “A insegurança é geral, afetando até empresas que operam em várias cidades”, alerta Sanches.

Para as vítimas dos ataques, a perda de equipamentos e a falta de retorno financeiro tornam a recuperação quase impossível sem uma ação firme do poder público. Os clientes também sofrem com a suspensão de serviços, aumento de preços e pressão para contratar empresas específicas.

Thiago Ayub, pesquisador de tecnologia da informação, explica que a situação ameaça um mercado historicamente competitivo. “O Brasil tem mais provedores de internet que qualquer outro país, o que garante qualidade superior a nações como Reino Unido e Alemanha. Isso gerou uma raridade: deflação. O preço médio da internet fixa, cerca de R$ 100, não sobe há anos, e os planos melhoram pelo mesmo valor”, diz. Ele alerta que a redução da concorrência pode reverter esse cenário, prejudicando os consumidores.

Leia Também:  PGR pede que STF torne policiais e militares réus por tentativa de golpe

Redação com informações do Diário do Nordeste

Compartilhar: