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China solicita ancoragem de navio hospitalar no Brasil e provoca impasse diplomático

China solicita atracação de navio hospitalar no Rio em 2026, gerando impasse diplomático e tensão geopolítica no Brasil.
China solicita ancoragem de navio hospitalar no Brasil e provoca impasse diplomático

A Embaixada da China no Brasil encaminhou um pedido oficial ao Ministério das Relações Exteriores brasileiro para que o navio hospitalar Ark Silk Road, pertencente à Marinha do Exército Popular de Libertação (EPL), possa atracar no Porto do Rio de Janeiro entre os dias 6 e 13 de janeiro de 2026. A solicitação, feita por meio de nota verbal datada de 15 de setembro de 2025, desencadeou desconforto no Itamaraty e nas Forças Armadas, conforme fontes internas consultadas pelo Poder360.

A missão e o navio hospitalar Ark Silk Road

Desde setembro, o Ark Silk Road navega em missão humanitária internacional intitulada Harmony Mission 2025 (Missão Harmonia 2025), que terá duração aproximada de 220 dias e prevê visitas a 12 países. A embarcação, equipada com uma estrutura médica avançada, dispõe de 14 departamentos clínicos e sete unidades auxiliares de diagnóstico, podendo realizar mais de 60 tipos de procedimentos cirúrgicos, incluindo ortopedia, ginecologia e oftalmologia. O navio ainda conta com helicóptero próprio para resgates e evacuações médicas, e sua tripulação é formada por 389 profissionais capacitados, majoritariamente da Marinha do Comando do Teatro Sul do EPL e da Universidade Médica Naval.

Durante a passagem pelo Pacífico Sul, a missão atendeu mais de 9.200 pessoas, realizou mais de mil cirurgias e seis mil exames, além de promover ações conjuntas com hospitais e escolas das regiões visitadas. Destaca-se que a nota diplomática chinesa não explicita a razão da ancoragem no Brasil, limitando-se a informar que “não está prevista a realização de atividades de pesquisa em águas jurisdicionais brasileiras ou a utilização de equipamentos rádio transmissores”.

Contexto diplomático e preocupações internas

O pedido gerou apreensão dentro da Marinha do Brasil, que evitou comentá-lo publicamente, ressaltando que sua avaliação é técnica, focada nos aspectos logísticos e operacionais da atracagem, como dimensões do navio, segurança da navegação, capacidade portuária e demandas de infraestruturas. A condução da decisão política cabe integralmente ao Itamaraty, que mantém discrição sobre o assunto.

Fontes anônimas indicam que o fato da solicitação não mencionar explicitamente a missão Harmony tem causado dúvidas e inquietações quanto aos objetivos reais da visita. Para o cientista político Maurício Santoro, do Centro de Estudos Político-Estratégicos da Marinha do Brasil, a situação é “constrangedora”, pois o Brasil não necessita desse tipo de cooperação humanitária, dado seu desenvolvimento na área de saúde. Ele destaca que o próprio Navio-Aeródromo Multipropósito Atlântico da Marinha brasileira poderia atender a demandas humanitárias semelhantes.

Implicações geopolíticas relevantes

Mais que um gesto humanitário, a missão chinesa simboliza a intenção da China de expandir sua presença naval global para além de sua região tradicional, atuando em áreas distantes da influência norte-americana, como o Atlântico Sul e o Caribe. Esse movimento ocorre em paralelo ao reforço da presença naval dos Estados Unidos na mesma região, alinhado a políticas antidrogas e tensões políticas regionais, como as sanções econômicas à Colômbia e operações conjuntas no Caribe.

O avanço chinês no Atlântico Sul, evidenciado pela missão do Ark Silk Road e pelo investimento na infraestrutura portuária, como o megaporto de Chancay no Peru — liderado pela estatal Cosco Shipping Company — é observado atentamente por Washington. O deputado Santoro ressalta: “Quem manda um navio hospitalar pode mandar um navio de guerra”, indicando o potencial estratégico subjacente às ações chinesas.

Diplomacia brasileira entre potências

O desafio para o Brasil reside em equilibrar seus laços tanto com China quanto com os Estados Unidos. A quase simultânea visita do navio de pesquisa oceanográfica norte-americano Ronald H. Brown ao Porto de Suape, entre 14 e 21 de janeiro de 2026, simboliza essa disputa por influência no Atlântico Sul. Dessa forma, o Brasil precisa acolher o gesto chinês sem comprometer seu relacionamento estratégico com Washington.

Até o momento, o silêncio do Itamaraty sugere que a decisão será tomada com cuidado, ponderando entre a cordialidade diplomática e a cautela geopolítica, para não tornar o país um palco de tensões entre potências globais.


[Da redação do Movimento PB]
MPB-POL-01112025-5a7d3b9f23