Coronel Corrêa Netto, acusado de articular reunião de Forças Especiais para influenciar comandantes, é visto pelo alto comando como possível exceção em sanções do STF.
A Procuradoria-Geral da República (PGR), liderada por Paulo Gonet, aponta o coronel Bernardo Romão Corrêa Netto como figura central em uma tentativa de golpe para impedir a posse de Lula em 2023. Na denúncia, Gonet destaca que Corrêa Netto, então assistente do comandante militar do Sul, planejou um encontro com militares de Forças Especiais (FE), chamados informalmente de “kids pretos”, para traçar estratégias contra o alto comando. A cúpula militar, porém, acredita que ele pode evitar punições duras do Supremo Tribunal Federal (STF).
Em 26 de novembro de 2022, Corrêa Netto escreveu ao coronel Fabrício Moreira de Bastos: “Resolvi tomar uma iniciativa e conto com o apoio do Nilton para isso. Reunir alguns FE em funções-chave para termos uma conversa sobre como podemos influenciar nossos chefes. Para isso vamos fazer uma reunião em Brasília.” Bastos respondeu “Bora”, e Corrêa Netto acrescentou: “O Nilton está vendo onde.” Dois dias depois, ele avisou o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, que o encontro seria às 19h no salão de festas da 305 Norte, residência do coronel Márcio Nunes de Resende Júnior.
Gonet afirma: “Os diálogos confirmam a ideia de reunir exclusivamente militares com formação em Forças Especiais que poderiam, de algum modo, influenciar seus comandantes, valendo-se também dos seus conhecimentos táticos especializados.” A reunião debateu a “Carta ao Comandante do Exército de Oficiais Superiores da Ativa do Exército Brasileiro”, uma minuta para angariar apoio ao plano golpista. O general Nilton Diniz Rodrigues, assistente de Marco Antônio Freire Gomes, foi citado por sua proximidade com o comandante, que rejeitava intervenções.
A PF conectou Bolsonaro, Alexandre Ramagem (ex-Abin) e Angelo Martins Denicoli (ex-Petrobras) à trama, denunciando também Corrêa Netto e Bastos. Apesar disso, o alto comando avalia que Corrêa Netto pode ser poupado pelo STF. Internamente, discute-se sanções para réus, previstas no Estatuto dos Militares e na lei de promoção, como o status “sub judice”, que barra promoções e cursos.
Resta saber como o alto comando reagirá se o STF de fato aliviar a mão sobre Corrêa Netto, em meio a um caso que testa os limites da disciplina militar.
Com informações de O Globo