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Cúpula dos Povos inicia em Belém para confrontar falsas soluções da COP30

Das águas da Baía do Guajará, a Cúpula dos Povos teve início em Belém nesta quarta-feira (12), marcando o maior evento paralelo da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30). Mais de 200 embarcações, entre canoas, barcos e navios, reuniram cerca de 5 mil pessoas de movimentos populares de 62 países para um ato simbólico de abertura. O encontro ocorre até 16 de novembro, na Universidade Federal do Pará (UFPA), campus Guamá, das 8h às 22h.

Os barcos, tradicionais meio de transporte e fonte de subsistência na Amazônia, foram usados como mensageiros, substituindo bilhetes por vozes dos povos das águas, florestas, campos e periferias. Essas comunidades defendem práticas coletivas, agroecológicas e ancestrais como caminhos essenciais para a sustentabilidade, em contraponto às propostas oficiais.

Movimentos populares em resistência

Desde o início da semana, a capital paraense recebe presidentes, ministros e chefes de Estado para a COP30, mas a chegada de caravanas tem provocado tensões com organizadores do evento oficial. Marchas e protestos são frequentes, denunciando projetos como o Ferrogrão e a exploração petrolífera na foz do Amazonas. Uma Marcha Unificada está prevista para o dia 15, quando diversos grupos vão enfatizar a relação entre justiça climática, defesa da vida e dos territórios.

Na véspera da Cúpula dos Povos, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) realizou um ato na AgriZone, espaço da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) com apoio de grandes marcas, criticando a orientação do evento oficial. Ainda na terça-feira (11), manifestação pela taxação de grandes fortunas na Zona Azul terminou em tumulto, evidenciando as divergências em torno da COP30.

Cúpula dos Povos: diversidade e diálogo

Diferente da COP30, voltada às negociações governamentais, a Cúpula dos Povos é organizada por mais de 1.100 entidades da sociedade civil. Durante os cinco dias, o público poderá participar de plenárias abertas, feiras populares, cozinhas solidárias, atividades culturais e espaços dedicados à infância e à adolescência.

“Iniciamos a Cúpula dos Povos reforçando a resistência diante das falsas soluções da COP30, que agravam a destruição da natureza e ameaçam os modos de vida dos povos”, afirma Ayala Ferreira, dirigente do MST.

Temas centrais e expectativas

A programação aborda seis eixos principais: territórios e soberania alimentar; reparação histórica e racismo ambiental; transição justa; democracia e internacionalismo dos povos; cidades justas e periferias vivas; feminismo popular e resistências das mulheres. Por meio de uma carta política, os organizadores denunciam a omissão e ineficácia dos países tomadores de decisão, o crescimento dos investimentos prejudiciais ao clima e as ameaças contínuas aos direitos territoriais.

Com expectativa de reunir mais de 30 mil pessoas, a Cúpula posiciona-se como resposta à inércia percebida na COP, que apesar de receber bilhões em recursos, não apresenta resultados contundentes contra as mudanças climáticas.

A programação no primeiro dia

Para esta quarta-feira (12), o cronograma prevê:

  • 8h às 22h – Feira Popular;
  • 8h às 17h – Cúpula das Infâncias;
  • 9h às 12h – Barqueata pelos rios Guamá e Guajará, com chegada das delegações;
  • 15h às 17h – Concentração e acolhida das delegações no palco principal;
  • 17h às 19h – Cerimônia de abertura da Cúpula dos Povos;
  • 19h às 21h – Show de abertura no palco principal.

As atividades culturais incluem apresentações do Coletivo Tamborimbó, Pandeiro Livre, Suraras do Tapajós, Célia Sampaio, além de espaços como a Casa das Sabedorias Ancestrais e a feira dos povos.

Reflexão final

Ao reunir povos originários, quilombolas, juventudes, trabalhadores urbanos e rurais, feministas, sindicatos e organizações ambientais, a Cúpula dos Povos se apresenta como um espaço plural e resistente. Como destaca Sara Pereira, da Fase Programa Amazônia: “Não haverá transição justa sem garantir os direitos dos povos tradicionais, elemento essencial para a justiça climática.”


[Da redação do Movimento PB]
MPB-UN-BR-12112023-4F7D21-01