Relatos de praças e familiares apontam desigualdades no atendimento, enquanto Marinha nega favorecimentos em resposta a denúncias.
Rio de Janeiro (RJ), 09/03/2025 – Uma reportagem publicada na Revista Sociedade Militar na sexta-feira (7) incendiou as redes sociais ao expor supostos privilégios no atendimento médico dos hospitais militares da Marinha do Brasil, com base em hierarquia. A denúncia, que alcançou mais de 200 mil visualizações e 175 mil contas no Instagram, gerou 425 comentários até o momento, revelando um cenário de indignação entre praças e seus dependentes. Uma análise de sentimentos feita por inteligência artificial apontou que 85,6% das reações são negativas, destacando a percepção de um sistema desigual que favorece oficiais em detrimento de outros militares e suas famílias.
Denúncias de “Fura-Fila” e Privilégios
Os relatos pintam um quadro de frustração generalizada. Um militar contou que, enquanto estava em atendimento odontológico no antigo PAMESQ (Posto de Assistência Médica e Social da Esquadra), foi interrompido e obrigado a ceder lugar à esposa de um comandante: “Nem curativo fizeram. No dia seguinte, tive que implorar para ser atendido.” Outro usuário relatou a dificuldade de seu pai em marcar uma consulta de urologia há um ano, questionando: “Duvido que um almirante ouça ‘não tem vaga’. Vão buscar o médico em outra unidade para ele.”
No Hospital Naval Marcílio Dias (HNMD), no Rio, um ponto de controvérsia é o suposto “totem” exclusivo para oficiais, que permitiria furar filas. Uma mãe de filhas autistas criticou a infraestrutura: “Tem sala de espera melhorada para oficiais, mas não para autistas. Agora entro na sala deles, quero ver quem me tira.” Esses testemunhos reforçam a percepção de que a hierarquia militar, tradicionalmente rígida nos quartéis, se estende ao acesso à saúde, afetando até dependentes civis.
Resposta Oficial da Marinha
A Marinha rebateu as acusações em nota à Revista Sociedade Militar. Sobre o “totem” na Clínica de Hematologia do HNMD, a instituição negou sua existência, afirmando que o atendimento é por ordem de chegada, com senhas distribuídas respeitando prioridades legais (idosos, gestantes e pessoas com deficiência). No Serviço de Análises Clínicas, confirmou dois totens automáticos, mas apenas para cadastramento de exames, sem distinção hierárquica. O hospital mantém até cinco guichês para praças e dependentes e um para oficiais, com 15 boxes de coleta para praças e quatro para oficiais — dois deles atualmente inoperantes.
A Força destacou que não há precedência hierárquica na emergência e que o atendimento ambulatorial segue ordem de chegada, com ajustes em momentos de pico para evitar atrasos. “O atendimento médico-hospitalar é prestado de maneira igualitária a todos os usuários, sem distinção na qualidade”, afirmou a Marinha, negando privilégios estruturais ou operacionais.
Hierarquia Versus Equidade
Apesar da resposta oficial, a insatisfação persiste. Comentários como “Se até o banheiro é separado, imagina o resto!” e “Tem andar padrão Unimed, mas não para praças” sugerem que a própria infraestrutura dos hospitais reforça a percepção de desigualdade. Um caso emblemático veio de um usuário que lembrou a morte de sua mãe em 1992, após ceder um leito na UTI a um contra-almirante: “Ela entrou em coma e faleceu. Isso não é hierarquia, é privilégio descarado.”
A análise de sentimentos, feita com técnicas avançadas de Processamento de Linguagem Natural (PLN), revelou que apenas 4,2% dos comentários defendem a Marinha, elogiando a organização ou negando diferenciações, enquanto 10,2% são neutros. Os 85,6% de críticas refletem um descontentamento enraizado, alimentado por relatos pessoais que contradizem a narrativa institucional.
Debate reacendido
O tema expõe uma tensão antiga no sistema de saúde militar: até onde a hierarquia, essencial à disciplina das Forças Armadas, deve influenciar o acesso a direitos básicos como a saúde? Para muitos, a lógica castrense não deveria atingir dependentes civis, como esposas e filhos, que não estão sujeitos às patentes. “Na questão da saúde, não deveria haver hierarquia, mas prioridade para quem precisa”, resumiu um comentarista.
A repercussão da reportagem, publicada em 7 de março, e a resposta da Marinha, que não aplacou as críticas, sugerem que o debate está longe de acabar. A análise da IA, concluída às 20h18 do mesmo dia, sublinha a força da percepção coletiva: para 85% dos usuários que se manifestaram, os hospitais militares da Marinha continuam sendo palco de privilégios, não de equidade. Enquanto praças e familiares clamam por mudanças, a instituição enfrenta o desafio de alinhar sua estrutura hierárquica com a demanda por um atendimento mais justo — um equilíbrio que, por ora, parece distante.
Texto adaptado de reportagem da Revista Sociedade Militar e revisado pela nossa redação.