Mauro Cid diz que carta das Forças Armadas respaldou atos contra STF e Congresso, em áudio revelado pela PF.
Um áudio obtido pela Polícia Federal durante o Inquérito do Golpe revela que o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, interpretou uma carta conjunta das Forças Armadas como um estímulo às manifestações contra os Três Poderes. A gravação, que envolve uma conversa com o então comandante do Exército, general Gomes Freire, menciona os acampamentos montados em frente ao quartel-general em Brasília no fim de 2022. Divulgados após a quebra de sigilo, os arquivos reforçam investigações já parcialmente conhecidas desde o indiciamento de Bolsonaro em 2024.
A carta, publicada em 11 de novembro de 2022 por Exército, Marinha e Aeronáutica, destacava o “compromisso irrestrito e inabalável com o povo brasileiro”. Segundo Cid, os manifestantes viram no texto um sinal de apoio para intensificar suas ações. “Eles entenderam nessa carta que os movimentos vão ser convocados de forma pacífica e eles estão sentindo o respaldo das Forças Armadas”, afirmou. Ele acrescentou que os acampados temiam represálias do ministro Alexandre de Moraes, do STF, mas acreditavam que o documento garantia proteção caso fossem presos durante protestos pacíficos, incentivando-os a mirar o Supremo e o Congresso.
Outro áudio da investigação traz Cid confirmando que Bolsonaro sabia e participou da elaboração da chamada minuta do golpe, um decreto que instituiria o estado de defesa no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). “Ele ainda tá naquela linha que vem sendo conversada com os comandantes e com o Ministério da Defesa. Ele entende as consequências do que pode acontecer. Hoje, ele mexeu naquele decreto, mexeu bastante, fez algo mais direto, objetivo de curto e limitado”, relatou. A declaração sugere que o ex-presidente ajustou pessoalmente o texto, ciente de suas implicações.
Na semana passada, a denúncia contra Bolsonaro e outros 33 investigados foi apresentada ao Supremo Tribunal Federal (STF). O caso será analisado pela Primeira Turma, composta pelos ministros Alexandre de Moraes (relator), Flávio Dino, Cristiano Zanin, Cármen Lúcia e Luiz Fux. Se aceita pela maioria, os acusados se tornarão réus em uma ação penal. Conforme o regimento do STF, as turmas julgam esse tipo de processo, e a data do julgamento, ainda indefinida, pode ocorrer no primeiro semestre de 2025, dependendo dos trâmites legais.
A defesa de Bolsonaro, representada pelo advogado Celso Vilardi, reagiu anunciando que pedirá a anulação da delação premiada de Mauro Cid, base de parte das acusações. Os áudios, agora públicos, intensificam o debate sobre o papel das Forças Armadas e a atuação do ex-presidente no período pós-eleitoral de 2022, enquanto a investigação avança no STF.
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Texto adaptado de Agência Brasil e revisado pela nossa redação.