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O Domínio do CV em Belém: Como a facção do Rio controla a capital paraense e motiva GLO para a COP30

Expansão da facção, revelada por mortos em operação no Rio, impõe “taxas” e regras locais, enquanto governo prepara operação de Garantia da Lei e da Ordem para evento climático.

A capital paraense, Belém, vive uma realidade de domínio da facção Comando Vermelho (CV), originária do Rio de Janeiro. Moradores da região metropolitana convivem com “salves” (ordens) da facção e a imposição de “taxas” a comerciantes, segundo relatos. A rotina de submissão nas periferias contrasta com os preparativos da cidade para a COP30, que agora contará com uma operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO).

A profunda conexão entre o Pará e a estrutura nacional do CV ficou evidente na recente e letal operação policial nos complexos da Penha e do Alemão, no Rio de Janeiro. Dos 62 mortos identificados como de outros estados, 19 eram do Pará, o maior número entre todas as unidades da federação, seguido pela Bahia (12) e Amazonas (9).

O próprio governo paraense confirmou ter colaborado com as investigações no Rio. Segundo o secretário de Segurança Pública, Ualame Machado, 32 mandados judiciais da operação eram resultado de investigações da Polícia Civil do Pará contra alvos baseados no Rio que comandavam extorsões e ataques a policiais no Pará à distância.

GLO e a preparação para a COP30

Na segunda-feira (3/11), foi confirmado o decreto de GLO para Belém, solicitado pelo governador Helder Barbalho (MDB). Embora a medida venha logo após a crise no Rio, o pedido original data de 17 de setembro. A GLO será focada na proteção de “infraestruturas críticas” para a COP30, como usinas, portos, aeroportos e vias de acesso, além dos locais do evento e hospedagem.

A decisão, no entanto, gera preocupação. Antes mesmo da operação no Rio, entidades da sociedade civil, como a Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos, protocolaram no MPF uma carta criticando a “militarização excessiva” do evento e os potenciais impactos aos direitos civis e humanos, defendendo que a ampla participação social é necessária para o sucesso da conferência.

A lógica do CV no Pará: “Rouba na baixa”

A expansão do CV em Belém, iniciada por volta de 2014-2015 pela união com gangues locais, impôs uma lógica de controle territorial. Segundo pesquisadores da Universidade do Estado do Pará (UEPA), a facção proíbe assaltos e brigas entre vizinhos nas comunidades que domina — uma ordem resumida em pichações como “Rouba na baixa” ou “Proibido roubar na favela”.

Essa atuação é comparada à das milícias, com a cobrança coercitiva de taxas de comerciantes e moradores por suposta segurança ou serviços. Moradores relatam que os próprios jovens dos bairros são recrutados, muitas vezes dentro do sistema prisional, e “batizados” na facção para impor as regras em seus territórios.

Aiala Colares Couto, professor da UEPA e diretor-presidente do Instituto Mãe Crioula (IMC), aponta que, paradoxalmente, os índices de roubos caíram onde o CV domina, mas ressalta a complexidade da situação. Belém se tornou estratégica para a facção não só pelo mercado consumidor, mas por ser um “nó” logístico para o tráfico internacional na Amazônia, com acesso a rios e à costa atlântica.

Hoje, o CV é a facção dominante no Pará, presente em 57 dos 73 municípios do estado que registram atuação de grupos criminosos, segundo o estudo Cartografias da Violência na Amazônia 2024.

Adaptado da BBC News Brasil, pela redação do Movimento PB.

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