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O Feudo Digital: Como Facções no Rio Expulsam a Concorrência e Impõem ‘Gatonet’ com Vigilância Armada

Uma operação da Polícia Civil do Rio de Janeiro, batizada de ‘Rede Obscura’, revelou nesta terça-feira (5) a face de um novo e lucrativo braço do crime organizado: o controle de um serviço essencial. A ação desmantelou duas centrais clandestinas de internet na Zona Norte e na Baixada Fluminense, mas o que ela expôs foi um sistema de exploração ilegal do serviço de internet comandado com mão de ferro pelas facções criminosas Comando Vermelho e Terceiro Comando Puro.

A Máfia da Conexão: Violência e Vandalismo como Modelo de Negócio

A investigação, conduzida pela Delegacia de Defesa dos Serviços Delegados (DDSD), demonstrou que as facções não apenas oferecem um serviço pirata, mas criam um verdadeiro monopólio à base da força. Com o apoio logístico de criminosos armados, elas impedem a entrada de operadoras licenciadas nas comunidades, garantindo um mercado cativo. A tática inclui o vandalismo sistemático de redes técnicas e a destruição de cabos de fibra óptica de empresas rivais para forçar a adesão ao seu serviço.

Na região do Morro do Quitungo, dominada pelo Comando Vermelho, a polícia constatou a existência de postos de vigilância armada e uma severa restrição à mobilidade, provando que a empresa ilegal operava sob a proteção direta do tráfico. O resultado da operação foi a prisão em flagrante de um homem por receptação e a apreensão de 200 modens roubados e grande quantidade de equipamentos.

O Cidadão Refém: Sem Escolha e Financiando o Tráfico

Para os moradores dessas comunidades, a situação é de total ausência de escolha. Segundo os agentes, os criminosos obrigam os moradores a usar o sinal de TV a cabo e internet explorados por eles, com o pagamento de uma mensalidade que vai direto para os cofres do tráfico local. A situação cria um ciclo perverso, no qual a busca por um serviço básico acaba por financiar a mesma organização criminosa que os oprime.

O esquema é alimentado pelo crime do início ao fim. Foi verificado que materiais roubados de operadoras regulares, como cabos e modens, estavam sendo utilizados na sede das empresas clandestinas. O responsável pela empresa ligada ao Comando Vermelho, que já possui anotações criminais por tráfico e furto, admitiu em depoimento que fazia “repasses periódicos a lideranças do tráfico” em forma de “doações comunitárias”, um eufemismo para a taxa de proteção e extorsão.

A operação expõe uma faceta brutal da ausência do Estado. Onde a livre concorrência não pode entrar e a segurança pública é falha, as facções criminosas se estabelecem não apenas como traficantes, but como provedores de serviços essenciais, criando um feudo digital onde o cidadão é refém e a conexão com o mundo é controlada por quem detém as armas.

Da redação com informações de Agência Brasil

Redação do Movimento PB [GME-GOO-05082025-2244-15P]

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