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Protesto de Raoni na COP30 destaca ausência de discurso oficial para líder indígena

Cacique Raoni protesta na COP30 por ausência de fala oficial, destacando desafios de representatividade indígena na conferência climática.
O cacique Raoni Metuktire, uma das mais emblemáticas lideranças indígenas do Brasil, protagonizou no sábado (15/11), em Belém, um evento simbólico na Zona Azul da COP30 — Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática. Realizado longe dos palcos oficiais, onde ocorrem as negociações climáticas, esse encontro refletiu um protesto explícito de Raoni e sua delegação contra a ausência de uma oportunidade formal para que ele discursasse na conferência.

Falta de convite para fala oficial e apoio do Panamá

Segundo a equipe do Instituto Raoni, o cacique, conhecido por seu compromisso de décadas com a defesa ambiental e dos direitos indígenas, não foi convidado para discursar oficialmente pela presidência da COP ou pelo governo brasileiro. Diante disso, a equipe conseguiu espaço na Zona Azul graças à intervenção da delegação do Panamá, que apoiou a realização do evento em conjunto com jovens ativistas e o Instituto Raoni.

Mayalu Kokometi Waura Txucarramãe, coordenadora do Instituto Raoni, expressou frustração: “Era para ser o grande evento do Raoni aqui na COP, como maior líder dos povos indígenas. Ele deveria ter feito uma fala de abertura ou encerramento e não tem nada programado”.

Desafios de credenciamento e logística da comitiva

A dificuldade para obter credenciais para a equipe de Raoni também gerou desconforto. Inicialmente, apenas o cacique e três pessoas próximas tinham acesso à Zona Azul, número considerado insuficiente, especialmente para um líder de 93 anos que se desloca em cadeira de rodas e está acostumado a estar acompanhado.

O Panamá interveio para garantir a documentação necessária para cerca de 30 membros do grupo, facilitando a circulação durante o evento. Juan Carlos Monterrey Gómez, vice-presidente da COP30 e chefe da delegação panamenha, ressaltou a importância de dar voz aos indígenas nas negociações climáticas.

Resposta do Ministério dos Povos Indígenas e contexto político

O Ministério dos Povos Indígenas (MPI) afirmou desconhecer as críticas e destacou que realizou ampla articulação para garantir a maior participação indígena na história das COPs, com 360 indígenas credenciados na Zona Azul. Conforme dados da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), esse número corresponde a cerca de 12% do total de delegados presentes.

O MPI reforçou que o cacique Raoni recebeu tratamento especial, com entrada pela área de autoridades e escolta da Polícia Oficial da ONU, além do acompanhamento direto durante suas reuniões no evento.

Contraste entre imagem pública e a realidade na COP30

O protagonismo de Raoni contrasta com sua ausência na programação oficial da COP30, sobretudo diante da imagem de proximidade com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, quando subiu a rampa do Palácio do Planalto em janeiro de 2023. Embora Lula tenha avançado na demarcação de territórios indígenas, Raoni e sua equipe reivindicam maior atenção e cumprimento das promessas feitas.

No evento organizado na Zona Azul, Raoni enfatizou a urgência da defesa da floresta e criticou a má distribuição dos recursos destinados aos povos indígenas, pedindo que o dinheiro chegue diretamente às comunidades para que possam proteger seus territórios.

Movimentos e discursos durante a COP

Após o discurso, o futuro sucessor de Raoni, Megaron Txucarramãe, pediu que mulheres Kayapó entoassem um cântico tradicional, reforçando a força cultural do povo indígena. Paloma Costa, ativista climática participante da organização do evento, criticou a escolha do Brasil por um homem branco na presidência da COP, que teria influenciado a exclusão de lideranças indígenas do momento principal.

Reunião com autoridades e agendamento paralelo

Em vídeo divulgado pela ministra do MPI, Sônia Guajajara, Raoni é mostrado participando de reunião com autoridades, incluindo Marina Silva e Guilherme Boulos, além do presidente da COP30. O convite para essa reunião foi feito apenas um dia antes, inevitavelmente concorrendo com o evento no The Climate Funds, do Instituto Raoni e parceiros, evidenciando tensões na agenda oficial.

Apesar da interlocução com o governo, o motivo formal para a ausência de Raoni no espaço oficial da conferência não foi esclarecido pela presidência da COP nem pelo governo Lula até o momento.

Participação de outras lideranças indígenas

A Hutukara Associação Yanomami, representada por Davi Kopenawa, também esteve presente na Zona Azul, embora a associação não tenha mantido agendas formais com o MPI ou a Fundação Nacional do Índio (Funai) durante a COP.

Esse cenário ressalta os desafios atuais para a efetiva inclusão das vozes indígenas nas decisões climáticas em um momento crucial para as políticas ambientais globais, ainda que elas sejam protagonistas na preservação da Amazônia e no enfrentamento das mudanças climáticas.


[Da redação do Movimento PB]
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