A Europa está perdendo a corrida do software quântico, apesar do bom hardware
Estratégia da UE foca no desenvolvimento de máquinas, enquanto gigantes globais como IBM já constroem ecossistemas de programação para dominar o futuro da computação
Enquanto a quebra do código da máquina Enigma pelos Aliados marcou um ponto de virada na Segunda Guerra Mundial, o mundo agora se volta para uma ferramenta ainda mais poderosa: o computador quântico. No entanto, a Europa, apesar de estar na vanguarda do desenvolvimento de hardware, está ficando para trás no aspecto crucial do software. Especialistas e pesquisadores alertam que a estratégia da Comissão Europeia está focando demais na construção das máquinas em si, ignorando o desenvolvimento do código que fará essas máquinas funcionarem de forma eficiente, um erro que pode custar caro na corrida global pela supremacia tecnológica.
O engenheiro quântico Olivier Ezratty ressalta que o software é o “código trancado” dentro dos computadores quânticos, e dominá-lo é fundamental para que a Europa não perca a corrida global. Empresas europeias, como a IQM da Finlândia, a Toptica da Alemanha e a Alice & Bob da França, estão produzindo hardware de ponta — de chips a sistemas de resfriamento. No entanto, o desenvolvimento de software para esses sistemas está aquém do necessário. Enquanto isso, a gigante americana IBM já está construindo um ecossistema robusto com seu kit de software de código aberto, o Qiskit, que atrai e treina desenvolvedores, garantindo a sua dominação futura no setor.
Para quem não é da área, podemos simplificar alguns termos técnicos. Um computador quântico não usa os bits binários (0 ou 1) de um computador comum, mas sim qubits, que podem existir em múltiplos estados ao mesmo tempo. Isso permite que eles resolvam problemas complexos em minutos, algo que levaria anos em máquinas convencionais. A programação quântica é o desenvolvimento de algoritmos e softwares para essas máquinas, permitindo que elas realizem essas tarefas revolucionárias.
O problema da Europa não é apenas de estratégia, mas também de financiamento. Embora o bloco esteja investindo em startups quânticas, com 51% dos investimentos vindos de fundos públicos, o capital privado ainda é escasso em comparação com os Estados Unidos. Enquanto empresas europeias conseguem arrecadar de €130 milhões a €200 milhões, startups americanas como a IonQ e a QuEra fecharam rodadas de financiamento que superam US$ 230 milhões. A falta de fundos de capital de risco especializados na UE dificulta o crescimento dessas empresas, o que, para especialistas, pode ser o principal diferencial entre o sucesso e o fracasso na corrida quântica.
Traduzido e adaptado de Euractiv
Redação do Movimento PB GME-GOO-14082025-F2E8A1-25F