Ciberataques colocam mineração brasileira em alerta vermelho

A mineração brasileira vive uma transformação radical com a chegada da Indústria 4.0. Minas operando com veículos autônomos, sensores interligados por redes IoT e sistemas totalmente digitalizados já são realidade em complexos como o S11D, da Vale, em Carajás. Mas a sofisticação tecnológica trouxe um novo e perigoso calcanhar de Aquiles: a cibersegurança. Cada vez mais integradas ao mundo digital, as operações minerárias se tornam alvos frequentes de ataques cibernéticos — e o setor ainda está longe de estar preparado.

“Hoje, as grandes minas já são altamente automatizadas. Isso aumenta exponencialmente a superfície de ataque”, alerta Marcelo Branquinho, CEO da TI Safe, empresa especializada em segurança cibernética industrial. Ele chama atenção para o uso crescente de Cyber Physical Systems — sistemas que integram máquinas físicas a redes digitais — como fator-chave da vulnerabilidade. “Cada equipamento conectado tem um endereço IP. Basta um ponto fraco para que um invasor consiga paralisar uma mina inteira.”

O risco silencioso e invisível

A ameaça é invisível, mas potencialmente devastadora. Os ataques mais comuns são os de ransomware — em que criminosos criptografam sistemas e exigem resgate em criptomoedas — e os de phishing, que visam enganar funcionários para obter acesso às redes. Segundo Branquinho, muitos desses ataques são bem-sucedidos por falhas básicas: “Algumas mineradoras ainda não separam adequadamente suas redes administrativas (TI) das operativas (TO), permitindo que um ataque simples se alastre até sistemas críticos.”

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Há também ameaças menos óbvias, mas igualmente perigosas, como os ataques à cadeia de suprimentos — quando hackers comprometem fornecedores mal protegidos, o que pode interromper a produção sem atingir diretamente a mineradora. Outro risco crescente é o da espionagem industrial: “Há quem roube dados sobre reservas minerais e os venda na deep web. É silencioso, mas extremamente lucrativo”, alerta.

Apesar dos riscos, a maior parte das empresas ainda subestima a cibersegurança. “Temos mineradoras com centenas de unidades operacionais e apenas três ou quatro profissionais cuidando de toda a defesa digital. Isso é um convite ao desastre”, diz Branquinho.

Falta de regulação e déficit de profissionais

Um dos principais gargalos está na falta de regulação específica para o setor mineral. Ao contrário do setor elétrico, que já possui diretrizes da Aneel e do ONS, a mineração no Brasil opera no vácuo normativo em termos de cibersegurança. “As empresas só passam a investir após sofrerem ataques ou quando operam sob normas internacionais mais exigentes”, lamenta o especialista.

A norma ISA/IEC 62443, referência global para segurança em automação industrial, tem sido adotada por grandes grupos multinacionais. Mas sua aplicação ainda é limitada no país, dificultada pela escassez de mão de obra especializada. “O Brasil tem um déficit estimado de 60 mil profissionais em cibersegurança, e quase não há cursos voltados a redes industriais. O problema é estrutural”, afirma Branquinho.

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Defesa em camadas: o novo padrão ouro da segurança digital

Para mitigar os riscos, a TI Safe oferece uma abordagem de defesa em camadas: firewalls, IDS (sistemas de detecção de intrusão), EDRs industriais, controle de acesso remoto seguro, monitoramento 24 horas e políticas robustas de governança digital. “Tudo isso precisa funcionar em conjunto, como um sistema imune. Não adianta ter só antivírus e achar que está protegido.”

A empresa atua em modelo de serviço contínuo, com contratos de no mínimo 36 meses. Cerca de 30% de sua carteira é formada por empresas de mineração e siderurgia, setores que — embora estejam começando a reagir — ainda tratam a segurança digital como um tema secundário.

A hora de agir é agora

A nova fronteira da mineração não é apenas geológica ou tecnológica — é também cibernética. E a negligência pode custar caro. “O prejuízo de um ataque bem-sucedido é muitas vezes maior do que o investimento em prevenção. Em um setor em que qualquer parada custa milhões, ignorar os riscos digitais não é mais viável”, conclui Branquinho. “A era do martelinho e da marreta acabou. Hoje, quem quer minerar com segurança precisa começar protegendo seu perímetro digital.”

Fonte: Brasil Mineral

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