Ex-hacker ‘Tank’ revela na prisão funcionamento e impacto do cibercrime global
Vyacheslav Penchukov, o hacker ‘Tank’, revela na prisão como operam as gangues de cibercrime e o impacto de ataques a bancos e hospitais.
Vyacheslav Penchukov, conhecido pelo codinome ‘Tank’, é um dos cibercriminosos mais reputados e procurados da história recente. Aos 39 anos, enquanto cumpre pena em uma penitenciária de segurança mínima no Colorado, ele abriu uma rara janela sobre o funcionamento interno das gangues de hackers e o impacto devastador de suas ações.
Origens e ascensão no cibercrime
Natural de Donetsk, na Ucrânia, Penchukov iniciou sua trajetória hacker em fóruns de trapaças para videogames, migrando rapidamente para atividades criminosas mais complexas. Ele se tornou líder do grupo Jabber Zeus, que utilizava o malware Zeus e a plataforma de comunicação Jabber para orquestrar roubos cibernéticos diretos a contas bancárias, causando prejuízos milionários principalmente a pequenas empresas e prefeituras pelo mundo.
Durante os anos 2000, Penchukov administrava operações que chegaram a afetar centenas de vítimas só no Reino Unido, com perdas superiores a 4 milhões de libras em curto período. Apesar do avanço das forças policiais, sua habilidade de criar e manter relações influentes no meio o manteve fugitivo por quase uma década.
Da contabilidade ilícita ao ransomware
Entre 2018 e 2022, Penchukov se adaptou ao crescente cenário do ransomware, ataque que bloqueia sistemas corporativos mediante pedido de resgate financeiro. Ele integrou gangues que atingiam grandes corporações e instituições médicas, culminando em prejuízos expressivos. Um exemplo notório foi o ataque ao University of Vermont Medical Center, que resultou em uma interrupção crítica de serviços por mais de duas semanas e perdas estimadas em mais de 30 milhões de dólares.
Apesar de negar autoria direta em alguns ataques, Penchukov reconhece seu envolvimento estratégico e financeiro nesses esquemas. Segundo ele, a mentalidade dentro das comunidades hackers é dominada pelo efeito manada, direcionando-se para os alvos mais lucrativos, mesmo que médicas vulneráveis estejam na mira.
A prisão e o declínio do submundo hacker
A operação que culminou na prisão de Penchukov, realizada na Suíça em 2022, envolveu métodos dramáticos, incluindo atiradores e uma detenção pública que expôs seus filhos ao trauma. Desde então, ele cumpre duas sentenças simultâneas de nove anos e enfrenta a obrigação legal de restituir 54 milhões de dólares às vítimas.
Penchukov critica a excessividade da punição, mas reconhece que sua queda se deveu fundamentalmente à desconfiança e traição dentro do próprio meio criminoso. “Não se pode fazer amigos no cibercrime, porque no dia seguinte seus amigos serão presos e se tornarão informantes”, comentou.
Implicações para segurança digital e sociedade
A entrevista revela não apenas um olhar estratégico sobre a dinâmica interna dessas organizações, mas evidencia o impacto humano e econômico de suas ações. Famílias e pequenos negócios, como a Lieber’s Luggage no Novo México, sofreram perdas que abalaram sua subsistência e segurança financeira.
Mais do que uma narrativa de crime, o depoimento tende a alertar para a complexidade da cibersegurança contemporânea e a necessidade de políticas robustas para combater grupos que, mesmo após derrotas pontuais, mantêm estruturas resistentes e apoio velado de agências estatais, segundo Penchukov.
Considerações finais
Apesar de estar atrás das grades, Penchukov demonstra um misto de humor e resignação, enquanto reflete sobre os erros e a evolução do cibercrime. Sua história oferece lições cruciais para o combate global à criminalidade digital, destacando a urgência de estratégias integradas e cooperação internacional para resguardar instituições e cidadãos vulneráveis.
O ex-hacker finaliza com um alerta: “Se você faz cibercrime tempo suficiente, perde sua vantagem.” Uma metáfora para a inexorável pressão da lei, da tecnologia e da ética em um mundo cada vez mais conectado.
[Da redação do Movimento PB]
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