Uma declaração assinada por cerca de 60 países pedindo transparência e sustentabilidade no uso da inteligência artificial (IA) foi rejeitada pelos Estados Unidos e pelo Reino Unido durante a cúpula de Paris. O documento defende que o desenvolvimento da IA deve ser seguro, ético e acessível, mas Washington e Londres criticaram o teor do acordo.
A cúpula reuniu líderes políticos e representantes de gigantes do setor tecnológico, como Microsoft, OpenAI e Google, para debater os impactos e a regulação da IA. A ausência dos EUA e do Reino Unido na lista de signatários contrasta com o apoio de países como Brasil, União Europeia, Alemanha, China, França e Índia.
Críticas dos EUA: regulamentação pode sufocar inovação
O vice-presidente dos EUA, J.D. Vance, argumentou que regulamentações excessivas podem prejudicar o setor de IA e enfraquecer a competitividade norte-americana. Ele destacou que a IA deve permanecer livre de “preconceitos ideológicos” e alertou contra o uso da tecnologia para censura.
Vance também criticou as regras europeias, como a Lei de Serviços Digitais e o Regulamento Geral de Proteção de Dados (GDPR), afirmando que impõem custos altos para empresas menores.
Sem mencionar diretamente a China – que surpreendentemente assinou a declaração –, Vance insinuou preocupações com a influência do país, citando o impacto de produtos chineses subsidiados no mercado global.
O Reino Unido, por sua vez, justificou sua recusa alegando que o documento carece de clareza em questões de governança e segurança nacional.
Brasil defende governança global da IA
O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, reforçou a necessidade de um modelo internacional de governança para garantir o uso responsável da IA. Para ele, sem regulamentação, a tecnologia pode ameaçar sistemas democráticos e comprometer o direito internacional.
O Brasil já avançou nesse debate internamente. Um projeto de lei sobre IA foi aprovado no Senado e aguarda votação na Câmara dos Deputados.
Macron pede equilíbrio entre inovação e segurança
O presidente francês, Emmanuel Macron, afirmou que a regulamentação da IA deve evitar burocracias excessivas, mas que é essencial para garantir confiança pública na tecnologia. Ele destacou que, sem regras claras, há o risco de rejeição popular.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, também defendeu um equilíbrio entre inovação e regulação. Ela anunciou investimentos de bilhões de euros para fortalecer a IA na Europa, destacando a necessidade de competir com os EUA e a China.
Investimentos bilionários no setor
A OpenAI e seus parceiros planejam investir US$ 500 bilhões em novos centros de dados para IA nos EUA, enquanto a União Europeia destinará € 50 bilhões à iniciativa InvestAI. Na França, empresas prometeram € 109 bilhões para expandir a infraestrutura de IA.
Apesar das divergências sobre regulação, o setor continua crescendo rapidamente, consolidando-se como um dos pilares da economia global nas próximas décadas.