Europa Precisa de Espada e Escudo para Deter Ameaças Cibernéticas da Rússia

Com a aliança transatlântica fragilizada, Europa enfrenta intensificação das operações híbridas russas e busca um “escudo digital” para proteger sua soberania.

A crescente incerteza no cenário geopolítico europeu, agravada pela pausa nas operações cibernéticas ofensivas dos Estados Unidos contra a Rússia, coloca o continente diante de um desafio duplo: fortalecer sua capacidade militar tradicional — a “espada” — e construir um “escudo digital” robusto para conter a escalada das táticas híbridas de Moscou. Relatórios de inteligência de países como Estônia, Finlândia e Dinamarca alertam que a Rússia deve intensificar ataques cibernéticos, sabotagens e operações de influência em 2025, visando desestabilizar a União Europeia (UE) e a OTAN, enquanto a retirada gradual do apoio americano força a Europa a agir por conta própria.

A Ameaça Híbrida Russa em Ascensão

O Serviço de Inteligência Estrangeira da Estônia prevê que a Rússia manterá sua campanha de sabotagem ao longo de 2025, com atos como incêndios criminosos e vandalismo digital para minar o apoio europeu à Ucrânia. O Military Intelligence Review 2025 da Finlândia reforça essa visão, destacando que Moscou aumentará o uso de métodos híbridos — cyberattacks, desinformação e ataques a infraestruturas energéticas — para semear discórdia entre os membros da OTAN e da UE. Já o Serviço de Inteligência de Defesa da Dinamarca, em janeiro de 2025, apontou a probabilidade de um ataque cibernético destrutivo autorizado pelo Kremlin, um risco evidenciado por ações passadas contra a rede elétrica ucraniana em 2015, 2016 e 2022.

A decisão do Comando Cibernético dos EUA de suspender operações ofensivas contra a Rússia, sob ordens do Secretário de Defesa Pete Hegseth, é vista como parte de uma estratégia de negociação com Vladimir Putin sobre o futuro da Ucrânia. Contudo, essa pausa pode encorajar atores russos, que, no último ano, expandiram seus alvos para incluir setores como aviação, educação, governo e forças armadas em toda a Europa. Diante da sinalização do governo Trump de que os EUA não mais protegerão o continente, a Europa precisa urgentemente reforçar suas defesas digitais.

Leia Também:  Submissão Tecnológica e a Armadilha Neocolonial: O Brasil na Era das Big Techs

Construindo o “Escudo Digital”

O conceito de “escudo digital”, que ganha força entre líderes europeus, propõe uma arquitetura de defesa cibernética para proteger infraestruturas críticas, preservar a democracia e garantir a soberania digital. Especialistas sugerem quatro pilares fundamentais:

  1. Colaboração Público-Privada: Ampliar o compartilhamento de informações entre governos e empresas privadas — que fornecem mais de 70% das comunicações por satélite para defesa — é essencial. Fomentar um setor europeu de cibersegurança vibrante reduz a dependência de empresas americanas, cujo apoio pode minguar sob pressão da administração Trump.
  2. Comunicações Seguras: Proteger redes governamentais e militares, alvos constantes de espionagem cibernética russa, exige criptografia avançada e infraestruturas digitais reforçadas. Casos como o jamming de GPS no norte da Noruega e no Mar Báltico, atribuído à Rússia em outubro de 2024 pela ministra finlandesa Lulu Ranne, evidenciam a urgência.
  3. Inteligência de Sinais (SIGINT): Investir em SIGINT permite detectar e atribuir ataques cibernéticos em tempo real, protegendo sistemas críticos. A Europa precisa superar sua defasagem nessa área para equiparar-se às capacidades russas.
  4. Guerra Eletrônica (EW): Reforçar a capacidade de interceptar comunicações militares russas e neutralizar interferências, como spoofing de GPS, é vital. O relatório de 2024 da Agência Europeia de Defesa destaca a EW como prioridade, com 14 países comprometidos, mas a interoperabilidade e os recursos ainda são insuficientes.

Uma Europa Ainda Vulnerável

Apesar dos avanços, como o Cyber Defence Pledge da OTAN e a Estratégia de Cibersegurança da UE de 2020, a implementação é lenta. Apenas sete dos 27 Estados-membros da UE adotaram integralmente regras para proteger setores como energia e transporte. A suspensão recente do apoio militar e de inteligência dos EUA à Ucrânia pelo governo Trump intensifica a pressão, enquanto a incerteza sobre a postura de empresas de tecnologia americanas — cruciais para a cibersegurança europeia — adiciona riscos.

Leia Também:  Trump acusa Zelensky de "jogar com a Terceira Guerra Mundial" e desiste de acordo sobre minerais

A frequência de ataques digitais russos, como os que afetam os Estados Bálticos e a Escandinávia, revela a fragilidade atual. Sem o guarda-chuva de segurança dos EUA, o “escudo digital” torna-se uma necessidade premente, exigindo investimentos de longo prazo em tecnologia e inovação.

Espada e Escudo: Um Equilíbrio Necessário

Embora a guerra na Ucrânia tenha impulsionado gastos com armamentos convencionais — a “espada” da defesa europeia —, negligenciar o “escudo” cibernético seria um erro estratégico. A Rússia explora vulnerabilidades digitais para desestabilizar sociedades e enfraquecer a solidariedade com Kyiv. Um continente despreparado corre o risco de sucumbir a essas táticas, mesmo com arsenais militares modernos. A Europa precisa agir rápido, unindo esforços para deter um adversário que não hesita em usar o ciberespaço como arma.


Tradução e adaptação do artigo Europe needs both sword and shield to deter Russia

Compartilhar: