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Internet em uma caixa: Tecnologia brasileira promete levar 5G e 6G ao campo e erradicar a exclusão digital

Internet em uma caixa: Tecnologia brasileira promete levar 5G e 6G ao campo e erradicar a exclusão digital

Desenvolvida pelo Inatel, solução “Conectividade na Caixa” cria uma operadora de celular privada e portátil, capaz de levar internet de alta velocidade a fazendas, fábricas e comunidades isoladas, em uma aposta na soberania tecnológica nacional.

Em um país de dimensões continentais como o Brasil, onde 20 milhões de pessoas ainda vivem em um deserto digital, a solução para a conectividade pode não vir das grandes torres das operadoras, mas de dentro de uma simples caixa. Pesquisadores do Instituto Nacional de Telecomunicações (Inatel), em Minas Gerais, desenvolveram uma tecnologia revolucionária batizada de “Conectividade na Caixa”. Trata-se de um sistema compacto e de fácil instalação que condensa uma estação completa de rede móvel, permitindo que qualquer pessoa, empresa ou comunidade crie sua própria “mini operadora” de 4G ou 5G.

A inovação, que começou a ser desenvolvida em 2017 e agora entra na fase final de transferência para o mercado, é uma resposta direta a um dos maiores desafios do Brasil: levar internet de qualidade a áreas remotas. “A gente condensou a antena, a distribuição e o núcleo. Com uma única caixa, uma pessoa pode ter sua própria operadora”, explica o professor Luciano Mendes, coordenador do projeto. A tecnologia permite a criação de redes móveis privativas, onde apenas dispositivos autorizados podem se conectar, garantindo segurança e estabilidade para aplicações críticas em fábricas, no agronegócio ou em sistemas de cidades inteligentes.

O alcance do sistema é impressionante para seu tamanho. Ele pode cobrir uma área de 5 a 10 quilômetros com sinal 5G e chegar a incríveis 100 quilômetros com o 4G, atendendo até 100 usuários simultaneamente. O projeto já está sendo repassado a startups, que miram em mercados específicos como o setor de óleo e gás e, principalmente, o campo, onde a conectividade é essencial para a agricultura de precisão. “Esse foi o grande viés da nossa pesquisa: a inclusão digital”, afirma Mendes.

Para quem não é da área, podemos simplificar alguns termos…

Uma “rede móvel privativa” funciona como a rede Wi-Fi da sua casa, mas com a tecnologia e o alcance de uma rede de celular. Só quem tem a “senha” (ou o chip autorizado) pode entrar, o que a torna muito segura. O “núcleo de rede” é o “cérebro” de uma operadora; é ele que gerencia as conexões, autentica os usuários e os conecta à internet. A inovação do Inatel foi colocar todo esse “cérebro”, junto com as antenas, dentro de uma única caixa. Já o “espectro de frequência” é como as “estradas” invisíveis por onde viaja o sinal do celular. Para usar uma dessas estradas, é preciso uma licença da Anatel, o que hoje é a principal barreira para a popularização da tecnologia.

O caminho para o 6G com DNA brasileiro

Apesar do avanço, a burocracia ainda é um obstáculo. A expansão da “Conectividade na Caixa” depende de autorizações da Anatel para o uso do espectro, um processo que ainda limita a adoção em massa da tecnologia. Mas o Inatel já está pensando no próximo passo, e ele é ainda mais ambicioso: usar a mesma lógica para desenvolver a tecnologia 6G no Brasil, com foco total na inclusão.

A proposta, chamada “TV Space”, é genial em sua simplicidade: aproveitar as faixas de frequência ociosas dos antigos canais de TV analógica, especialmente em áreas rurais, para transmitir internet de forma compartilhada e a baixo custo. “Muita gente fala que o satélite é a solução, mas os equipamentos são caros. Nossa proposta é usar um ponto de conexão via satélite e distribuir o sinal por dezenas de quilômetros a um custo acessível”, explica o pesquisador. A ideia é que pequenas comunidades, como aldeias indígenas ou assentamentos, possam montar suas próprias redes sem depender de grandes e caras licitações.

A iniciativa do Inatel é um exemplo brilhante de como a ciência e a tecnologia desenvolvidas no Brasil podem resolver problemas estruturais do país. Em um setor dominado por gigantes estrangeiras, o desenvolvimento de uma tecnologia nacional para o 6G é um ato de soberania. “O Brasil tem a chance de ter uma tecnologia que é sua, que foi desenvolvida aqui e que poderia causar um impacto muito grande. Poderíamos ser os pioneiros em uma tecnologia brasileira capaz de reduzir a exclusão digital”, destaca Mendes. É a prova de que a inovação mais transformadora pode, de fato, vir de dentro de uma caixa.

Redação do Movimento PB

Redação do Movimento PB [NMG-OGO-12102025-E9F1A3-13P]