Seguro cibernético obrigatório redefine mercado de tecnologia financeira no Brasil
A obrigatoriedade de seguros cibernéticos para fornecedores de tecnologia do sistema financeiro, estabelecida recentemente pelo Banco Central, promete transformar radicalmente o panorama de segurança digital no país. A medida, considerada um marco regulatório histórico, chega em um momento de acelerada digitalização da economia e aumento exponencial de ataques virtuais sofisticados.
“Estamos diante de um momento histórico. Assim como no passado a tecnologia transformou os processos de seguros tradicionais, agora vivemos uma era em que o risco digital passa a ser tratado como parte essencial da solidez do sistema financeiro”, afirma Marta Helena Schuh, Diretora de Seguros Cibernéticos da Howden Brasil.
Divisor de águas regulatório
A resolução do Banco Central equipara o risco cibernético a outros perigos tradicionais já cobertos por apólices obrigatórias, como incêndios e roubos. Para especialistas, esta é a consolidação de um processo que começou com a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) e ganha agora contornos mais concretos com exigências específicas para o setor financeiro – um dos mais visados por criminosos virtuais.
Marta Schuh, com 15 anos de experiência no setor e reconhecida internacionalmente como uma das principais vozes femininas em cibersegurança na América Latina, compara a mudança a revoluções anteriores: “Assim como quando bastava fotografar um carro para dispensar uma inspeção presencial, agora testemunhamos a maturidade do risco digital como componente essencial da gestão empresarial”.
Desafios imediatos para o mercado brasileiro
A transição para a obrigatoriedade enfrenta obstáculos significativos. Segundo Schuh, “muitas empresas sequer mensuram corretamente seus riscos digitais, e agora terão que estruturar políticas de compliance e contratação de apólices adequadas”. Este cenário exige não apenas produtos bem estruturados pelas seguradoras, mas também um trabalho consultivo robusto por parte das corretoras.
O desafio é particularmente agudo para pequenas e médias empresas de tecnologia que atendem instituições financeiras. Sem recursos para equipes especializadas, muitas dependem de soluções padronizadas que podem não cobrir vulnerabilidades específicas de seus negócios.
O elo mais fraco: o fator humano
Um dos pontos críticos destacados pela especialista é a percepção equivocada de que a cibersegurança é responsabilidade exclusiva da área de TI. “O risco é transversal: envolve jurídico, compliance, RH, comunicação e principalmente a alta liderança. O fator humano segue sendo a maior vulnerabilidade, seja por falta de treinamento ou por falhas operacionais”, ressalta Schuh.
A educação corporativa contínua emerge como necessidade premente. Empresas que prosperam neste campo são aquelas que criam uma cultura organizacional voltada para a gestão de riscos, onde cada colaborador entende seu papel na proteção digital da organização.
Inteligência artificial: ampliando oportunidades e ameaças
A chegada da inteligência artificial generativa e agentes autônomos representa novo capítulo nesta equação. Schuh alerta: “A IA pode acelerar processos de atendimento, análise de sinistros e mitigação de riscos, mas também aumenta a superfície de ataque. Hackers já estão explorando essas tecnologias, e o setor precisa correr para se antecipar”.
Neste contexto, os princípios de governança digital tornam-se indispensáveis. Enquanto a Europa avança com o AI Act, o Brasil ainda constrói sua regulamentação, pressionando empresas responsáveis a adotarem protocolos de transparência, imparcialidade e privacidade de forma proativa.
Perspectivas de crescimento e maturidade do mercado
O mercado global de seguros cibernéticos já movimenta bilhões de dólares e deve expandir aceleradamente nos próximos anos. No Brasil, a obrigatoriedade tende a catalisar este crescimento. “A exigência do Banco Central vai estimular a procura e gerar escala. Isso permitirá a criação de produtos mais acessíveis e especializados”, projetou Schuh.
Este movimento cria um ciclo virtuoso: maior demanda leva a mais concorrência, que por sua vez resulta em prêmios mais baixos e coberturas mais abrangentes. O desafio será equilibrar acessibilidade com eficácia, garantindo que as apólices ofereçam proteção real contra ameaças em constante evolução.
Implicações para o Nordeste brasileiro
Para a região Nordeste, onde fintechs e empresas de tecnologia têm crescido significativamente, a nova regulamentação representa tanto oportunidade quanto desafio. Estados como a Paraíba, com polos tecnológicos em desenvolvimento, precisarão acelerar a adaptação às normas para não perder competitividade no fornecimento para o sistema financeiro nacional.
A medida pode estimular a criação de ecossistemas locais especializados em cibersegurança, gerando empregos qualificados e atraindo investimentos para a região. No entanto, exigirá capacitação acelerada de profissionais e acesso a produtos de seguro adequados à realidade nordestina.
Mais que uma exigência regulatória, a obrigatoriedade do seguro cibernético simboliza a maturidade da economia digital brasileira. Assim como ocorreu com outras formas de proteção empresarial, a normalização desta cobertura sinaliza que os riscos digitais deixaram de ser ameaças abstratas para se tornarem variáveis gerenciáveis – um passo crucial para a consolidação de um ambiente digital seguro e resiliente no país.
Da redação com informações de Howden Brasil [DSK-DSK-26092025-1730-V2L]
Descubra mais sobre Movimento PB
Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.