Sob pressão dos EUA, Brasil aprofunda parceria com Huawei em inteligência artificial

Governo brasileiro firma acordos com gigante chinesa para datacenters e hospital inteligente, desafiando advertências de Washington

Apesar das crescentes pressões dos Estados Unidos contra a Huawei, o Brasil avança em sua cooperação com a gigante chinesa de tecnologia. Em visita à China, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reafirmou o compromisso brasileiro com o desenvolvimento conjunto de inteligência artificial (IA), incluindo acordos estratégicos em infraestrutura digital e aplicações práticas da tecnologia.

O Ministério do Comércio da China reagiu repetidamente às ameaças do governo americano de sancionar países que utilizem chips de IA da Huawei “em qualquer lugar do mundo”. Sob protesto de Pequim, Washington chegou a recuar parcialmente da retórica, mas a intenção de conter a expansão global da Huawei segue ativa.

Ainda assim, o Brasil se mantém firme na parceria. No dia 14 de abril, durante visita oficial a Pequim, Lula afirmou:

“A nossa relação com a China é estratégica. A gente quer inteligência artificial. A gente quer tudo o que eles podem compartilhar conosco.”

Acordo com a Dataprev abre caminho para infraestrutura de IA

Durante a visita, foi anunciado um acordo entre a Dataprev, estatal brasileira de tecnologia da informação, e a Sparkoo, plataforma de nuvem da Huawei. A parceria visa construir infraestrutura e serviços voltados à criação da Infraestrutura Nacional de Dados de Inteligência Artificial, parte dos planos do Novo PAC, do programa Nova Indústria Brasil e da iniciativa chinesa Cinturão e Rota.

Segundo Lula, o Centro Virtual de Pesquisa e Desenvolvimento em IA, fruto do acordo, será decisivo para criar soluções nas áreas de agricultura, saúde, segurança pública e mobilidade urbana. O projeto envolve a implantação de datacenters no Nordeste, com apoio de universidades públicas e institutos de pesquisa, especialmente em capitais como Fortaleza.

Além da infraestrutura, a Huawei também se comprometeu a adaptar para o português seu modelo de IA Pangu, utilizado na China em smartphones e outros dispositivos.

Hospital inteligente em São Paulo será nova frente

Outro projeto em negociação prevê a criação de um “hospital inteligente” no complexo do Hospital das Clínicas, em São Paulo. A estrutura será cedida pelo governo estadual de Tarcísio de Freitas (Republicanos), com financiamento parcial do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), instituição ligada ao Brics e sediada em Xangai.

O projeto, denominado Instituto Tecnológico de Medicina Inteligente, também envolve encontros regulares entre executivos da Huawei e autoridades brasileiras, como o chefe da Casa Civil, Rui Costa, e a secretária de Informação e Saúde Digital do Ministério da Saúde, Ana Estela Haddad.

Huawei amplia presença global com chips Ascend

O fornecimento dos avançados chips Ascend, criados pela Huawei para aplicações de IA, não foi explicitamente incluído nos acordos com o Brasil. No entanto, o pesquisador americano Kyle Chan, da Universidade de Princeton, aponta que países como Arábia Saudita, Emirados Árabes, Tailândia e Malásia já utilizam esses chips em datacenters locais.

A expansão da Huawei para a América Latina, contudo, apresenta obstáculos. Durante evento em 2024, o fundador da empresa, Ren Zhengfei, criticou a complexidade da legislação brasileira:

“As leis são tão complexas que é muito difícil para os advogados entenderem a legislação brasileira. Levamos 20 anos para finalmente passarmos do prejuízo para o lucro no Brasil. Até hoje, não é possível dizer que vamos sobreviver.”

Mesmo diante das incertezas, a aposta brasileira na cooperação tecnológica com a China reforça uma alternativa ao eixo tecnológico dominado pelos Estados Unidos, marcando um novo capítulo nas disputas geopolíticas que cercam a inteligência artificial.

Com informações da Folha de S.Paulo.

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