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Sua escrita está virando um robô? Como a Inteligência Artificial está padronizando a linguagem e matando a criatividade

Sua escrita está virando um robô? Como a Inteligência Artificial está padronizando a linguagem e matando a criatividade

De artigos acadêmicos a conversas do dia a dia, o “dialeto da IA”, com suas palavras repetitivas e estruturas previsíveis, começa a se infiltrar na comunicação humana, criando um ciclo de retroalimentação que ameaça a originalidade.

Se há alguns anos a grande preocupação de professores e puristas da língua era o “internetês”, com suas gírias e abreviações, uma nova e mais sutil ameaça paira sobre a nossa forma de escrever e até de pensar. Com a popularização massiva de ferramentas de Inteligência Artificial generativa, como o ChatGPT, Gemini e Claude, um fenômeno global começa a ser notado: a comunicação humana está ficando perigosamente parecida com a de um robô. Estruturas repetitivas, o uso excessivo de palavras como “robusto” e “investigar”, e até a pontuação estão sendo moldados pelo estilo das máquinas, levantando um debate urgente sobre a originalidade e o futuro da nossa linguagem.

O impacto é visível em diversas áreas. No ambiente acadêmico, o que antes era um espaço de rigor e estilo próprio, agora vê uma proliferação de textos que parecem ter saído do mesmo molde. A dúvida sobre a autoria tornou-se uma constante, e até mesmo pesquisadores que sempre tiveram um estilo de escrita mais formal agora se veem na defensiva, tendo que provar que não usaram IA. O “dialeto da IA” está se tornando o novo padrão, e quem foge dele corre o risco de ser visto como menos “profissional” ou “completo”, quando na verdade está apenas sendo original.

O ciclo vicioso: a máquina ensina o homem, que ensina a máquina

O fenômeno não se restringe ao português. Na língua inglesa, a palavra “delve” (investigar ou aprofundar), um cacoete comum dos chatbots, explodiu em popularidade. Um estudo citado pelo The Washington Post revelou que, após o lançamento do ChatGPT, o uso de “delve” em pesquisas acadêmicas aumentou dez vezes. Mas o mais assustador é que a mesma palavra também começou a aparecer com mais frequência em conversas espontâneas. Isso sugere que não estamos apenas usando a IA como ferramenta, mas absorvendo seus padrões linguísticos em nosso vocabulário cotidiano.

Estamos presos no que os especialistas chamam de “ciclo vicioso de retroalimentação”. As IAs são treinadas com uma vasta quantidade de textos produzidos por humanos. Agora, nós, humanos, estamos produzindo textos cada vez mais influenciados pelo estilo da IA. Futuramente, as novas versões dessas tecnologias serão treinadas com esses nossos textos “robotizados”, tornando a linguagem sintética ainda mais padronizada e, consequentemente, influenciando-nos ainda mais. A diversidade e a riqueza da expressão humana estão sendo lentamente erodidas por um algoritmo.

Para quem não é da área, podemos simplificar alguns termos…

Um Grande Modelo de Linguagem (LLM) é o “cérebro” de uma IA como o ChatGPT. Ele é treinado com bilhões de textos da internet para aprender padrões e conseguir gerar respostas coerentes. Já o ciclo vicioso de retroalimentação, neste contexto, funciona assim: 1) A IA aprende com textos humanos. 2) Nós usamos a IA e começamos a escrever como ela. 3) A próxima geração de IA aprende com nossos textos que já imitam uma IA. O resultado é que a linguagem, tanto a humana quanto a da máquina, fica cada vez mais parecida e menos diversa, como uma fotocópia da fotocópia que vai perdendo a qualidade.

A tecnologia não é neutra: o desafio de manter a autenticidade

O que estamos testemunhando reforça uma verdade inconveniente: a tecnologia nunca é neutra. Suas ferramentas não apenas executam tarefas, mas moldam ativamente nossa cultura, nosso comportamento e, agora, nossa forma mais fundamental de expressão. A busca pela eficiência e pela produtividade, facilitada pela IA, pode estar nos custando algo muito mais valioso: nossa capacidade de comunicar de forma autêntica, criativa e surpreendente.

O desafio que se impõe não é o de banir a tecnologia, mas o de usá-la com consciência crítica. É preciso incentivar a originalidade, valorizar os estilos de escrita que fogem da norma e, principalmente, lembrar que a comunicação é mais do que a simples transmissão de informações. É a expressão da nossa humanidade, com todas as suas imperfeições, nuances e belezas — características que, até o momento, nenhum algoritmo é capaz de replicar. O risco não é que as máquinas comecem a pensar como nós, mas que nós comecemos a escrever como elas.

Adaptação da Redação do Movimento PB com informações de Exame

Redação do Movimento PB [NMG-OGO-03102025-S5T1U8-13P]


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