‘Vibe Coding’: como a programação por linguagem natural impulsionada por IA está revolucionando o desenvolvimento

Técnica que transforma instruções em texto em código funcional ganha força com ChatGPT, Replit e outras ferramentas, reduzindo barreira de entrada e acelerando protótipos
Programar sem escrever uma única linha de código já é realidade graças ao chamado “vibe coding”, tendência que ganhou impulso em 2024 com o avanço das inteligências artificiais generativas. Em vez de dominar sintaxes como Python ou JavaScript, o desenvolvedor — ou mesmo o leigo — descreve objetivos em linguagem natural (“crie um app de lista de tarefas”) e as IAs retornam código executável.
Como funciona e de onde surgiu
A base do vibe coding são grandes modelos de linguagem, como ChatGPT, Claude e o recém-lançado Gemini. Esses sistemas aprendem padrões de texto em larga escala e convertem descrições em trechos de código. “O programador deixa de ser digitador de linhas e se torna um diretor criativo, guiando a IA com comandos em português ou inglês”, explica Jhonata Emerick, CEO da Datarisk e doutor em IA pela USP.
O termo explodiu em fevereiro, após post do ex-diretor da OpenAI e Tesla Andrej Karpathy. Com ferramentas como Lovable e Replit, qualquer pessoa pode gerar apps, sites e jogos simples em minutos — bastam prompts bem formulados. A Ardor, empresa de análise de dados, relata que 25% das startups da última Y Combinator tiveram até 95% de seu código criado por IA em práticas alinhadas ao vibe coding.
Quem adota e por quê
O perfil dos “vibe coders” varia de programadores experientes buscando ganhar produtividade a empresários sem formação técnica. Marcell Almeida, CEO da PM3, usa IA para protótipos: “Antes demorava meses para validar uma ideia; hoje faz-se em semanas.” Leonardo Zeferino, diretor de IA da OneBrain, destaca que “pessoas não técnicas já criam seus próprios aplicativos”, democratizando o desenvolvimento.
Empresas como Alura já incorporaram vibe coding em cursos avançados. “Reduzimos em 50% o tempo de entrega de projetos de alunos”, afirma Fabrício Carraro, gerente de programas.
Vantagens e riscos
O principal atrativo é a baixa barreira de entrada: basta saber falar em linguagem humana. O foco se desloca da sintaxe ao design e à usabilidade. “Você pode pedir um site de previsão do tempo e refinar o layout enquanto a IA cuida da parte técnica”, exemplifica Emerick.
Por outro lado, confiar cegamente na IA traz perigos. Bugs escondidos, falhas de segurança e código difícil de manter são ameaças reais. “Dependendo só do vibe coding, o usuário deixa de aprender fundamentos importantes”, alerta Raul Ikeda, professor de computação no Insper. Tanto Emerick quanto Ikeda concordam que a prática deve complementar, não substituir, a formação técnica.
Diferenças em relação ao no-code
Embora ambos reduzam a exigência de codificação manual, o vibe coding gera código real e personalizável a partir de texto. Já o no-code se baseia em plataformas visuais de arrastar e soltar, restritas a templates pré-definidos. “No no-code, você monta um app; no vibe coding, você escreve um prompt e recebe um produto final pronto para ajustes finos”, compara Emerick.
O futuro do vibe coding
Especialistas projetam que o método se consolidará em projetos de menor risco — landing pages, protótipos e automações simples. À medida que modelos de IA ganham especialização e melhor integração em IDEs e plataformas educacionais, profissões como “engenheiro de prompt” e “auditor de código gerado por IA” deverão surgir.
Para Marcell Almeida, dominar o vibe coding será tão essencial quanto saber buscar informações no Google. “Quem não souber usar essas ferramentas ficará para trás. Vibe coding é o novo básico do desenvolvimento”, conclui. Com maior eficiência e criatividade, a tendência promete remodelar a forma de transformar ideias em software.