Em uma descoberta que mistura microbiologia e engenharia elétrica, pesquisadores da Universidade Estadual do Oregon identificaram uma bactéria com propriedades condutoras comparáveis às de fios metálicos. A Geobacter timberlakei, nomeada em homenagem à tribo Yurok, nativa da região onde foi encontrada, promete abrir novos caminhos para energias limpas e remediação ambiental.
Como a Bactéria “Respira” Eletricidade
Diferente de organismos que dependem de oxigênio, a G. timberlakei sobrevive em sedimentos aquáticos pobres em ar usando um mecanismo singular:
- Transferência direta de elétrons: Exporta elétrons para óxidos de ferro no ambiente, como se “expirasse” eletricidade;
- Nanofios bacterianos: Estruturas filamentosas em sua superfície atuam como condutores naturais;
- Eficiência recorde: Gera corrente 10x mais estável que outras Geobacter conhecidas.
“É como se cada bactéria fosse um microcircuito vivo”, compara Frank Reardon, coautor do estudo publicado na Nature Microbiology.
Aplicações que Podem Mudar o Jogo
A descoberta tem potencial para transformar setores estratégicos:
- Baterias biológicas: Pilhas compostas por colônias bacterianas, recarregáveis por matéria orgânica;
- Remediação de poluentes: Degradação de metais pesados em áreas contaminadas;
- Sensores autossustentáveis: Dispositivos de monitoramento ambiental que funcionam sem energia externa.
Estima-se que, em 5 anos, essas tecnologias possam reduzir em 30% os custos com tratamento de resíduos industriais.
Homenagem Indígena e Ciência Colaborativa
O nome timberlakei reflete uma parceria incomum:
- Consultoria com a tribo Yurok: Cientistas trabalharam com anciãos para batizar a bactéria, reconhecendo a conexão ancestral com a terra;
- Símbolo de reconciliação: “Quisemos honrar quem preservou esse ecossistema por séculos”, disse Reardon.
Próximos Passos
A equipe agora investiga:
- Engenharia genética: Modificar a bactéria para aumentar sua condutividade;
- Cultivo em escala: Produzir biofilmes condutores para aplicações industriais;
- Integração com redes elétricas: Testes preliminares sugerem que colônias podem alimentar LEDs de baixa potência.
“Estamos diante de um ‘cabo USB’ natural. O desafio é aprender a ligá-lo em nossos sistemas”, brinca a microbiologista Beverly Johnson, líder da pesquisa.
Por que isso importa?
Enquanto o mundo busca alternativas aos combustíveis fósseis, soluções inspiradas na natureza — como a G. timberlakei — oferecem um caminho sustentável. Esta descoberta prova que as respostas para os desafios energéticos do século XXI podem estar sob nossos pés, em ecossistemas ignorados.