Um estudo publicado na Nature Geoscience em julho trouxe uma descoberta intrigante que pode redefinir a compreensão sobre a origem da vida na Terra. Pesquisadores sugerem que nódulos polimetálicos encontrados a grandes profundidades oceânicas podem gerar eletricidade suficiente para dividir a água do mar em oxigênio e hidrogênio, um processo conhecido como eletrólise. Isso levanta a possibilidade de que o oxigênio tenha existido em ambientes escuros antes do surgimento da fotossíntese, há cerca de 2,7 bilhões de anos.
A pesquisa foi realizada na Zona Clarion-Clipperton, no Oceano Pacífico, uma região rica em nódulos polimetálicos contendo manganês, níquel e cobalto — metais essenciais para baterias e tecnologias sustentáveis. A descoberta despertou o interesse de empresas de mineração, mas também gerou alertas de ambientalistas sobre os impactos da exploração dessas áreas ainda pouco compreendidas.
Controvérsia científica
O estudo, liderado pelo ecologista marinho Andrew Sweetman, gerou um intenso debate na comunidade científica. Críticos, como o biogeoquímico Matthias Haeckel, questionam a falta de evidências conclusivas, sugerindo que o oxigênio detectado poderia ser resultado de bolhas de ar presas nos instrumentos. Além disso, pesquisadores do GEOMAR Helmholtz Centre for Ocean Research e do Ifremer, instituto francês de pesquisa oceânica, argumentam que nódulos metálicos, formados ao longo de milhões de anos, dificilmente manteriam uma carga elétrica ativa.
Desde a publicação, cinco estudos foram submetidos para revisão com o objetivo de refutar as conclusões de Sweetman. A empresa canadense The Metals Company, que financiou parte da pesquisa para avaliar os impactos ambientais da mineração em alto mar, também criticou a metodologia do estudo.
Apesar das controvérsias, Sweetman defendeu suas descobertas e afirmou que responderá formalmente às críticas. Segundo ele, esse tipo de debate é comum no meio acadêmico e pode impulsionar novas pesquisas para esclarecer o fenômeno.
Impactos ambientais e éticos
A possível existência de uma fonte alternativa de oxigênio em profundezas oceânicas reforça o quão pouco se sabe sobre os ecossistemas marinhos extremos. Organizações como o Greenpeace alertam para os riscos da mineração em alto mar, argumentando que a destruição dessas regiões poderia comprometer espécies ainda desconhecidas e ecossistemas frágeis.
Enquanto a ciência busca confirmar ou refutar a hipótese do “oxigênio escuro”, a descoberta já alimenta discussões sobre os limites da exploração dos oceanos e o impacto das atividades humanas no equilíbrio ambiental do planeta.