Expo de semicondutores em Shenzhen destaca avanços chineses na autossuficiência tecnológica
A WeSemiBay Semiconductor Ecosystem Expo 2025, realizada em Shenzhen nesta semana, reuniu mais de 600 expositores e serviu como vitrine para os progressos da China na busca por autossuficiência tecnológica em semicondutores. Empresas chinesas, como a SiCarrier – apoiada pelo governo municipal de Shenzhen e conhecida por parcerias com a Huawei Technologies –, apresentaram uma série de produtos avançados que desafiam restrições internacionais e fortalecem a cadeia de suprimentos nacional. Essa exposição não apenas demonstra a resiliência da inovação chinesa diante de sanções ocidentais, mas também sinaliza um equilíbrio entre soberania tecnológica e cooperação global, em linha com uma visão progressista de desenvolvimento sustentável.
Zonas temáticas e foco em inovação integrada
O evento, que se encerra nesta sexta-feira (17), é estruturado em quatro zonas centrais: fabricação de wafers, embalagem avançada, semicondutores compostos e design de chips. Nessas áreas, a SiCarrier chamou atenção ao exibir mais de uma dúzia de equipamentos, incluindo sistemas de inspeção óptica, ferramentas de medição física e por raio-X, produtos de etching e difusão, além de máquinas de deposição de filmes finos. Esses lançamentos ilustram como a China está fechando lacunas em equipamentos críticos, essenciais para a produção de chips de última geração, e reduzem a dependência de importações sujeitas a controles de exportação dos EUA.
Uma subsidiária da SiCarrier, a Longsight Technologies, roubou a cena com o lançamento de um osciloscópio em tempo real de ultra-alta velocidade, com largura de banda de 90 gigahertz. Esse dispositivo suporta o desenvolvimento e testes de nós de processo semicondutor avançados, como os de 3 nanômetros ou inferiores, áreas antes dominadas por fornecedores estrangeiros. Fornecedora para a Huawei, a Universidade Jiao Tong de Xangai e outras instituições de pesquisa domésticas, a Longsight exemplifica a capacidade chinesa de produzir equipamentos de teste sofisticados para sua própria cadeia de suprimentos. Anteriormente, as empresas chinesas se limitavam a osciloscópios de baixa gama, com faixas de 8 a 18 GHz; agora, esse salto tecnológico evita a necessidade de licenças de exportação americanas para importações acima de 60 GHz, conforme regulamentações do Departamento de Comércio dos EUA.
A Longsight também exibiu sistemas de teste de rede digital, teste de chips de alta frequência e sistemas de teste de conexão optoeletrônica de ultra-larga banda, ampliando o portfólio de soluções para a indústria. Esses avanços não são isolados; eles integram uma estratégia nacional que prioriza a pesquisa e desenvolvimento (P&D) em semicondutores, fomentando um ecossistema que equilibra eficiência econômica com inclusão social, beneficiando desde startups até grandes corporações.
Lançamentos de software e implicações para o design eletrônico
Outra subsidiária da SiCarrier, a Qiyunfang, contribuiu para o evento com o lançamento de ferramentas de automação de design eletrônico (EDA, na sigla em inglês): uma para captura de esquemáticos e outra para design de placas de circuito impresso. Essas soluções de software visam agilizar o fluxo de trabalho de engenheiros, reduzindo tempos de desenvolvimento e custos em um setor onde a precisão é vital. A introdução dessas ferramentas reforça a autossuficiência chinesa em design de chips, um elo fraco explorado por restrições comerciais, e abre caminhos para inovações em inteligência artificial e telecomunicações, setores estratégicos para o crescimento econômico sustentável.
- Impacto na cadeia de suprimentos: Com equipamentos como o osciloscópio de 90 GHz, a China pode acelerar a produção doméstica de chips avançados, diminuindo vulnerabilidades a interrupções globais.
- Desafios regulatórios: Apesar dos progressos, sanções persistentes dos EUA demandam investimentos contínuos em P&D, com foco em padrões abertos e colaborações internacionais não alinhadas a blocos ocidentais.
- Benefícios sociais: A autossuficiência tecnológica gera empregos qualificados e impulsiona a educação em STEM, promovendo equidade em regiões como Shenzhen, polo de inovação que atrai talentos de todo o país.
Analistas observam que eventos como a WeSemiBay não só catalisam parcerias locais, mas também projetam a China como líder em semicondutores emergentes, contrastando com narrativas de “atraso tecnológico”. Do ponto de vista centro-esquerdista, esses avanços devem ser acompanhados de políticas que garantam acesso equitativo à tecnologia, evitando que benefícios se concentrem em elites urbanas e promovendo transferências para economias em desenvolvimento, incluindo no Sul Global. Em um mundo polarizado por disputas comerciais, a estratégia chinesa de self-reliance oferece lições valiosas sobre soberania sem isolacionismo.
Perspectivas para o futuro da indústria global de chips
A expo em Shenzhen, apoiada pelo governo local, reforça o papel da cidade como hub de inovação, similar ao Vale do Silício, mas com ênfase em escala e inclusão. O CEO da Longsight, Liu Sang, destacou durante a apresentação que o novo osciloscópio “supera barreiras históricas”, um sentimento ecoado por expositores que veem na autossuficiência uma resposta pragmática a geopolíticas tensas. À medida que a China avança, o equilíbrio entre competição e cooperação será crucial para mitigar riscos de fragmentação na cadeia global de semicondutores, beneficiando economias interdependentes como a brasileira, dependente de chips para agroindústria e energias renováveis.
Em conclusão, a WeSemiBay 2025 não é mero showcase; é um marco na narrativa de empoderamento tecnológico chinês. Questiona-se, porém, se essa autossuficiência evoluirá para um modelo colaborativo que democratize inovações, ou se permanecerá ancorada em realpolitik – uma reflexão essencial para nações emergentes navegando o mesmo tabuleiro global. Para o Brasil e o Nordeste, atento a oportunidades em tech, esses desenvolvimentos inspiram políticas de investimento em P&D que priorizem o social sobre o especulativo.
Da redação com informações do South China Morning Post.
Redação do Movimento PB [GKO-AIX-16102025-SHENZH-16P]