IBM traça caminho para computador quântico funcional até 2029 com o processador Starling
IBM planeja computador quântico livre de erros até 2029 com o processador Starling, usando algoritmos qLDPC para 200 qubits lógicos e 100 milhões de operações.
A IBM anunciou em 10 de junho de 2025 que encontrou um caminho para desenvolver um computador quântico funcional e livre de erros até 2029, com o processador Starling, que terá 200 qubits lógicos capazes de realizar 100 milhões de operações quânticas. A estratégia, detalhada em dois artigos publicados na mesma data, aposta em algoritmos quânticos de verificação de paridade de baixa densidade (qLDPC) para reduzir drasticamente erros, marcando um avanço significativo na computação quântica, conforme reportado pelo Estadão em 11 de junho.
Desafios dos qubits e a promessa quântica
Diferente dos bits clássicos, que representam 0 ou 1, os qubits operam em superposição, expressando ambos simultaneamente. Essa propriedade permite resolver problemas complexos, como desenvolvimento de medicamentos e otimização logística, mas os qubits são frágeis, suscetíveis a erros por variações de temperatura, vibrações ou micro-ondas. A correção de erros é o maior obstáculo para viabilizar computadores quânticos no mundo real.
Limitações do código de superfície
Tradicionalmente, pesquisadores usavam códigos de superfície, agrupando milhares de qubits físicos para formar um qubit lógico resistente a erros, como no processador Willow do Google. Porém, a IBM considera essa abordagem inviável. “Códigos de superfície são brilhantes, mas teóricos. Exigem muitos qubits físicos, tornando a infraestrutura impraticável”, afirmou Jay Gambetta, vice-presidente de computação quântica da IBM, ao Estadão. Por exemplo, um qubit lógico pode exigir até 1.000 qubits físicos, o que limita a escalabilidade.
Inovação com qLDPC
A IBM aposta nos algoritmos qLDPC, estudados desde 2019 e destacados em um artigo de 2024 na Nature. Esses algoritmos reduzem em 90% a sobrecarga de qubits físicos, exigindo cerca de 100 por qubit lógico, contra 1.000 dos códigos de superfície. “Os qLDPC permitem maior eficiência ao conectar mais qubits, elevando a topologia do sistema”, explica Bárbara Amaral, pesquisadora da USP. A IBM também resolveu limitações anteriores, implementando portas lógicas universais, essenciais para computação quântica.
Arquitetura modular e correção em tempo real
O segundo artigo da IBM detalha como os qLDPC decodificam informações de qubits físicos, permitindo correção de erros em tempo real com recursos de computação clássica. A abordagem modular divide o sistema em blocos de cerca de mil qubits, facilitando escalabilidade. “Construímos em partes, conectando-as quando necessário, sem depender de um único chip gigante”, disse Gambetta. Essa modularidade será testada em processadores intermediários: Loon (2025), Kookaburra (2026) e Cockatoo (2027).
Desafios de engenharia
Com as bases científicas estabelecidas, a IBM enfrenta desafios de engenharia, como integrar hardware e manter estabilidade criogênica para milhares de qubits. “Resolvemos as questões científicas. Agora, o foco é engenharia, um risco que aceitamos”, afirmou Gambetta. A empresa construirá o Starling em um novo centro de dados em Poughkeepsie, Nova York, com planos para o Blue Jay em 2033, que executará 1 bilhão de operações com 2.000 qubits lógicos.
Cautela com o cronograma
Apesar do otimismo, especialistas pedem cautela. “Os qLDPC são promissores, mas difíceis de implementar em escala. A IBM pode estar prometendo demais para 2029”, alerta Bárbara Amaral. A viabilidade dependerá de superar gargalos de fabricação e manter a fidelidade dos qubits em condições reais.
Impacto esperado
Se bem-sucedido, o Starling poderá revolucionar setores como medicina, materiais e logística, resolvendo problemas que computadores clássicos levariam anos para processar. A IBM prevê alcançar vantagem quântica em 2026, com aplicações práticas antes de 2029, consolidando sua liderança frente a concorrentes como Google e Microsoft.