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Ímã mais potente do mundo pode revolucionar a energia do futuro

No coração do sul da França, em Cadarache, um projeto monumental está tomando forma. O Reator Termonuclear Experimental Internacional (ITER), uma colaboração científica global, acaba de instalar o ímã mais forte do mundo, um componente crucial que promete abrir caminho para a energia limpa e praticamente inesgotável do futuro. Capaz de gerar força suficiente para levantar um porta-aviões, esse superímã, conhecido como solenoide central, é peça-chave no esforço para replicar na Terra o processo de fusão nuclear que alimenta as estrelas.

A fusão nuclear: o sonho da energia ilimitada

A fusão nuclear é o processo que ocorre no interior das estrelas, onde núcleos atômicos leves se combinam para formar núcleos mais pesados, liberando enormes quantidades de energia. Na Terra, porém, replicar esse processo é um desafio colossal. Os núcleos, carregados positivamente, naturalmente se repelem, exigindo condições extremas de temperatura e pressão para que a fusão ocorra. É aqui que o reator tokamak do ITER entra em cena, utilizando campos magnéticos intensos para confinar e controlar o plasma superaquecido onde a fusão acontece.

Imagine tentar segurar um pedaço do Sol dentro de uma garrafa magnética. Essa é a essência do tokamak, e o solenoide central é o responsável por criar essa “garrafa”. Com uma força magnética equivalente a levantar 100 mil toneladas – o peso de um porta-aviões –, esse ímã é a espinha dorsal do projeto, garantindo que o plasma permaneça estável e confinado durante o processo de fusão.

ITER: a colaboração científica do século

Iniciado em 2007, o ITER é o maior projeto de fusão nuclear do mundo, reunindo 33 nações em uma colaboração científica sem precedentes. Países como Estados Unidos, China, Rússia, Japão e membros da União Europeia trabalham juntos, ao lado de centenas de empresas, para construir um reator que pode ser o divisor de águas na busca por uma fonte de energia limpa, segura e sustentável. Componentes únicos, projetados exclusivamente para o ITER, são fabricados em três continentes, em um esforço de engenharia que desafia os limites da tecnologia atual.

O projeto não é apenas uma façanha técnica, mas também um símbolo de cooperação global. Como destacou Bernard Bigot, Diretor-Geral do ITER, “cada componente é o resultado de um trabalho de engenharia de primeira classe”. A instalação em Cadarache é a primeira de grande escala a testar o conceito tokamak em um nível que possa ser escalado para produção comercial de energia.

Por que isso importa?

A fusão nuclear oferece uma promessa tentadora: uma fonte de energia praticamente ilimitada, sem as emissões de carbono dos combustíveis fósseis ou os riscos associados à fissão nuclear, como os resíduos radioativos de longa duração. Um grama de combustível de fusão pode gerar a mesma energia que várias toneladas de carvão, e os subprodutos são inofensivos. No entanto, o caminho até a fusão viável é cheio de obstáculos. O ITER não visa produzir energia para consumo imediato, mas sim demonstrar que a fusão é tecnicamente possível em larga escala.

Para o Brasil, o projeto ITER pode servir como inspiração. Embora a Paraíba e o Nordeste ainda não tenham conexão direta com o projeto, a busca por fontes de energia renováveis é uma prioridade regional, especialmente diante dos desafios climáticos e da necessidade de diversificar a matriz energética. Investir em pesquisa e desenvolvimento de tecnologias limpas pode posicionar a região como um polo de inovação, atraindo investimentos e talentos.

Desafios e o futuro da energia

Apesar do otimismo, o ITER enfrenta desafios significativos. A complexidade do projeto já levou a atrasos e custos que ultrapassam os 20 bilhões de euros. Além disso, a fusão comercial ainda está a décadas de distância, com o ITER planejando sua primeira operação em grande escala para 2035. Ainda assim, cada avanço, como a instalação do solenoide central, é um passo rumo a um futuro onde a energia limpa pode transformar a sociedade.

A instalação do ímã mais forte do mundo no ITER não é apenas um marco técnico, mas um lembrete do potencial humano para superar barreiras aparentemente intransponíveis. À medida que o projeto avança, ele reacende a esperança de que a fusão nuclear possa, um dia, alimentar o mundo de forma sustentável, reduzindo a dependência de combustíveis fósseis e mitigando os impactos das mudanças climáticas.


“O ITER é a colaboração científica mais complexa da história. Cada componente é o resultado de um trabalho de engenharia de primeira classe.” – Bernard Bigot, Diretor-Geral do ITER


Traduzido e adaptado de Xataka [GRK-XAI-28092025-2254-V1G]