Pesquisadores criam mapa 3D de 200 mil células cerebrais de camundongo, com 500 milhões de sinapses, mostrando como neurônios visuais interagem em tempo real.
Um marco na neurociência foi alcançado com a criação do maior e mais detalhado mapa 3D do cérebro de um mamífero, baseado em apenas um milímetro cúbico do tecido cerebral de um camundongo. Publicado em 9 de abril de 2025 nas revistas Nature e Nature Methods, o estudo, conduzido por 150 cientistas do projeto MICrONS, revela a complexidade de 200 mil células, incluindo 82 mil neurônios, e mais de 500 milhões de sinapses. Pela primeira vez, a pesquisa captura a atividade individual de neurônios em grande escala, oferecendo pistas sobre como o cérebro processa informações.
Uma janela para o córtex visual
O mapa foca o córtex visual do camundongo, região responsável por interpretar estímulos visuais. Ele contém quatro quilômetros de conexões neuronais, mapeados com precisão em um pequeno fragmento que representa apenas 0,2% do cérebro do animal. Comparado a um mapa humano similar, com 16 mil neurônios e 150 milhões de sinapses, o novo diagrama impressiona pela densidade e pelo nível de detalhe, descrito como “de tirar o fôlego” por Forrest Collman, neurocientista do Instituto Allen para Ciência Cerebral.
Como o mapa foi criado
A pesquisa começou com um experimento inovador: cientistas registraram a atividade de 76 mil neurônios enquanto o camundongo assistia a clipes de vídeo por duas horas. Depois, fatiaram o tecido cerebral em milhares de lâminas ultrafinas, cada uma com um quarto da espessura de um fio de cabelo. Essas fatias foram escaneadas e reconstruídas em um modelo 3D, com ajuda de inteligência artificial e algoritmos de aprendizado de máquina. O resultado combina imagens estáticas com gravações dinâmicas, mostrando como neurônios disparam e se conectam em tempo real.
Descobertas que desafiam teorias
O estudo revelou que neurônios sensíveis a traços visuais semelhantes, como formas ou movimentos, formam conexões mais fortes entre si, mesmo estando distantes, enquanto interagem menos com neurônios de funções distintas. Isso questiona a ideia clássica de que “neurônios que disparam juntos, conectam-se juntos”, sugerindo que a organização do córtex é mais complexa do que se pensava. “Estamos começando a entender como estrutura e função se cruzam”, disse Clay Reid, neurobiólogo e coautor.
Impactos para a ciência
O mapa abre portas para explorar processos cerebrais ainda misteriosos, como aprendizado, memória e percepção. Embora represente uma fração mínima do cérebro, os dados podem ajudar a modelar redes neurais artificiais e entender doenças neurológicas. A equipe planeja mapear o cérebro inteiro de um camundongo, um desafio que pode levar anos, mas promete revolucionar a neurociência com detalhes nunca antes vistos.
Um vislumbre do futuro
Para o público, o estudo é uma lembrança da complexidade do cérebro — um órgão que, mesmo em um animal pequeno, guarda segredos profundos. Assim como olhar para o céu estrelado inspira perguntas sobre o universo, o mapa do MICrONS convida a refletir sobre o que nos torna humanos. Enquanto os cientistas avançam, cada neurônio mapeado é um passo rumo a respostas maiores.
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Por redação do Movimento PB com informações da Revista Galileu.