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O Abismo Digital: estudo revela que desigualdade de conexão e falhas na educação travam o desenvolvimento do Brasil

O Abismo Digital: estudo revela que desigualdade de conexão e falhas na educação travam o desenvolvimento do Brasil

Enquanto o setor de tecnologia projeta déficit de meio milhão de profissionais, milhões de brasileiros permanecem desconectados ou com acesso precário; infraestrutura em João Pessoa está abaixo do recomendado.

Acelerar a transformação digital é uma necessidade urgente para a economia brasileira, mas esse avanço esbarra em uma barreira estrutural profunda: a desigualdade. Um estudo detalhado conduzido pela PwC Brasil em parceria com o Instituto Locomotiva, intitulado “O Abismo Digital no Brasil”, aponta que a falta de acesso à internet de qualidade, somada a deficiências graves na educação básica, está limitando as oportunidades de futuro para milhões de cidadãos.

Embora 81% da população com mais de 10 anos utilize a internet, o dado mascara uma realidade excludente: apenas 20% dos brasileiros podem ser considerados “plenamente conectados”, ou seja, possuem acesso ilimitado a dados e dispositivos adequados, como computadores. Na outra ponta, 33,9 milhões de pessoas estão totalmente desconectadas, um grupo formado majoritariamente por pessoas das classes C, D e E, negros e idosos.

Conexão precária e o gargalo da infraestrutura

Para a maioria da população, a experiência digital é restrita. Cerca de 58% dos brasileiros acessam a rede exclusivamente pelo celular, o que limita drasticamente a capacidade de realizar tarefas complexas, estudar ou trabalhar remotamente. Além disso, o custo pesa no bolso: famílias de baixa renda chegam a comprometer uma parcela significativa do orçamento para manter o acesso, enquanto usuários das classes D e E representam 82% do público que depende de planos pré-pagos, com dados limitados.

A raiz desse problema passa pela infraestrutura física. O estudo destaca que todas as capitais brasileiras apresentam defasagem na quantidade de antenas para garantir uma conectividade de qualidade. O ideal recomendado é de até 1.000 habitantes por infraestrutura.

Neste ponto, o cenário na capital paraibana reflete o desafio nacional. De acordo com o levantamento, João Pessoa possui uma média de 1.855 habitantes por antena, quase o dobro do limite recomendado para uma boa conectividade. Essa carência de infraestrutura afeta diretamente a velocidade e a estabilidade do sinal, prejudicando o desenvolvimento de negócios locais e o acesso a serviços digitais pela população.

Educação: o alicerce fragilizado

O “abismo” não é apenas tecnológico, mas também educacional. O relatório alerta que o Brasil possui um dos 10 piores desempenhos do mundo em matemática no exame Pisa, e 68% dos estudantes não possuem conhecimentos básicos na disciplina. Em leitura, a situação é igualmente preocupante: metade dos alunos não consegue identificar a ideia geral de um texto moderado.

Essas lacunas criam um analfabetismo funcional digital. Sem capacidade de interpretação e raciocínio lógico, jovens têm dificuldades para distinguir fatos de opiniões e ficam vulneráveis à desinformação. O sistema educacional também falha na formação tecnológica: antes da crise sanitária, apenas 21% das escolas utilizavam tecnologia no ensino, e a maioria dos professores não recebeu treinamento adequado para o ensino remoto ou para o uso de ferramentas digitais.

Descompasso no mercado de trabalho

Enquanto a formação patina, o mercado exige cada vez mais. A aceleração da automação e da inteligência artificial está transformando o perfil das vagas de emprego. Estima-se que, até 2025, o setor de tecnologia no Brasil demandará quase 800 mil novos talentos. No entanto, como as instituições de ensino não formam profissionais na mesma velocidade, projeta-se um déficit de 530 mil profissionais qualificados no setor.

Para reverter esse quadro e evitar que a desigualdade digital continue a perpetuar a pobreza, o estudo sugere um esforço conjunto entre governos, empresas e educadores. O investimento em “upskilling” (aprimoramento de competências) poderia não apenas incluir milhões de brasileiros no mercado de trabalho formal, mas também aumentar o PIB da América Latina em 7,7% até 2030.

Sem ações coordenadas para melhorar a infraestrutura de conexão e modernizar o currículo escolar, o Brasil corre o risco de ver sua “janela de oportunidade” demográfica se fechar, deixando para trás uma geração inteira sem as ferramentas necessárias para o século XXI.

Da redação do Movimento PB [GEM-MPB-24112025-ABISMO-V018]