X-37B da Força Espacial pousa na Califórnia, mas objetivos da missão seguem envoltos em segredo.
Vandenberg (CA), 09/03/2025 – O X-37B, mini ônibus espacial não tripulado desenvolvido pela Boeing para o Exército dos Estados Unidos, retornou à Terra na sexta-feira (7) após uma missão de 434 dias em órbita. Gerenciado pela Força Espacial dos EUA, o veículo ultrassecreto aterrissou discretamente na Vandenberg Space Force Base, na Califórnia, antes do amanhecer, consolidando seu histórico de longas permanências no espaço. Lançado em 28 de dezembro de 2023 a bordo de um foguete Falcon Heavy da SpaceX, a partir do Kennedy Space Center, na Flórida, o sétimo voo do X-37B (OTV-7) manteve seu perfil enigmático, com poucos detalhes revelados sobre seus objetivos.
Um Retorno Silencioso
O pouso, ocorrido às 07h22 UTC (2h22 EST), foi anunciado pela Força Espacial horas depois, acompanhado de imagens do veículo na pista, ainda sob a escuridão da madrugada. O X-37B, com seu design preto e branco que remete a uma versão miniaturizada dos antigos ônibus espaciais da NASA, tocou o solo com um estrondo sônico, marcando seu primeiro retorno à Costa Oeste desde 2014. “Escolhemos Vandenberg para exercitar nossa capacidade de recuperar o veículo em múltiplos locais”, informou a Força Espacial em comunicado.
A missão destacou avanços tecnológicos, como a realização de manobras de aerofreagem — técnica que usa o arrasto atmosférico para alterar a órbita sem gastar combustível. “Esse é um novo capítulo emocionante no programa X-37B”, declarou o Tenente-Coronel Blaine Stewart, diretor do programa. Segundo ele, a operação em um novo regime orbital e os testes de tecnologias de consciência situacional espacial escreveram “uma página significativa” na história do projeto.
O Mistério do X-37B
Com 9 metros de comprimento e 4,5 metros de envergadura, o X-37B é um veículo reutilizável projetado para longas missões. Diferente dos ônibus espaciais tripulados da NASA, ele é operado remotamente e carrega experimentos classificados. Desde seu primeiro voo em 2010, acumulou feitos impressionantes: a missão anterior (OTV-6) durou 908 dias, um recorde para o programa. Desta vez, os 434 dias em uma órbita altamente elíptica — variando entre 323 e 38.838 km de altitude, segundo observadores amadores — reforçam sua versatilidade.
Embora a Força Espacial afirme que o X-37B serve para testar tecnologias de reutilização, experimentos científicos e capacidades militares, a falta de transparência alimenta especulações. Analistas sugerem que o veículo pode estar envolvido no desenvolvimento de satélites espiões, sistemas de defesa orbital ou até armas espaciais — teorias que o Pentágono nunca confirmou. Um experimento conhecido foi o “Seeds-2”, que estudou os efeitos da radiação em sementes, mas a maior parte da carga útil permanece sob sigilo.
Um Programa em Ascensão
Lançado pela primeira vez em um Falcon Heavy — o mais poderoso da SpaceX até então usado pelo programa —, o OTV-7 expandiu os limites do X-37B, que antes operava em órbitas terrestres baixas com foguetes menores, como o Atlas V. A aerofreagem, testada em outubro de 2024, foi um marco, permitindo ao veículo ajustar sua trajetória de forma eficiente. Em fevereiro de 2025, a Força Espacial divulgou uma rara foto da Terra capturada pelo X-37B, um vislumbre inédito de suas operações em órbita alta.
“O sucesso dessa manobra demonstra nosso compromisso em inovar de forma segura e responsável”, afirmou o General Chance Saltzman, chefe de operações espaciais da Força Espacial. Para especialistas, essas capacidades podem influenciar futuros satélites militares, oferecendo maior manobrabilidade contra ameaças adversárias.
Especulações e o Futuro
Enquanto o X-37B é celebrado como uma plataforma de testes, sua natureza secreta continua a intrigar. “É um laboratório orbital que volta intacto, algo único”, disse um ex-oficial da Força Aérea ao Aviation Week. Há quem veja paralelos com o Shenlong, o misterioso spaceplane chinês, sugerindo uma corrida silenciosa por supremacia espacial.
Com duas unidades construídas pela Boeing, o programa não mostra sinais de desaceleração. Historicamente, novas missões são lançadas entre 3 e 13 meses após o retorno anterior, o que aponta para um possível OTV-8 ainda em 2025. Por enquanto, o X-37B segue como um enigma voador, unindo tecnologia de ponta e segredos militares em uma dança orbital que poucos compreendem por completo.