Estudo revela sons ultrassônicos emitidos por plantas sob estresse; descoberta pode revolucionar monitoramento agrícola
Pesquisadores da Universidade de Tel Aviv, em Israel, descobriram que as plantas emitem sons ultrassônicos quando estão sob estresse, como ao serem cortadas ou privadas de água. Esses sons, imperceptíveis ao ouvido humano, foram descritos como uma espécie de “grito” vegetal e podem representar uma forma inédita de comunicação do reino vegetal.
A pesquisa, publicada na revista Cell, mostrou que os ruídos — semelhantes a estalos curtos e secos — aumentam significativamente em plantas submetidas a condições adversas. Utilizando microfones sensíveis e câmaras acústicas, os cientistas gravaram os sons emitidos por caules de tomate e tabaco. Os sons foram especialmente intensos após cortes ou durante períodos de desidratação.
“Mesmo em campos silenciosos, há sons que não conseguimos ouvir, mas que carregam informações”, explicou a bióloga evolucionista Lilach Hadany, uma das autoras do estudo. Segundo ela, animais como morcegos, mariposas e roedores são capazes de captar esses sons, o que sugere uma rede invisível de interações acústicas entre plantas e fauna.
As plantas, apesar de não possuírem pulmões ou cordas vocais, produzem esses sons por meio do xilema — o sistema de vasos que transporta água. Quando ocorre formação ou rompimento de bolhas de ar nesses canais, especialmente em situações de estresse hídrico, pequenos estalos são gerados. Hadany compara os sons a “pipocas estourando”, reforçando que não se trata de algo melodioso, mas de cliques muito rápidos e curtos.
Além da descoberta biológica, a pesquisa desenvolveu um modelo de inteligência artificial com 70% de precisão para identificar se uma planta está estressada por falta de água ou por corte, apenas analisando os sons emitidos. Essa tecnologia pode ter grande impacto no setor agrícola, oferecendo um método não invasivo de monitoramento das condições das plantações.
Testes em estufas demonstraram que outras espécies além do tomate e do tabaco, como milho, trigo e uvas, também emitem sons sob estresse, indicando que o fenômeno é comum entre diferentes culturas. Os cientistas agora buscam aprofundar o conhecimento sobre o mecanismo fisiológico por trás desses “gritos” e sua possível aplicação em escala comercial.
A descoberta também reforça a hipótese de que as plantas podem interagir com o ambiente de forma mais complexa do que se pensava, inclusive respondendo a sons emitidos por animais. “Seria estranho se as plantas não usassem o som, considerando que interagem o tempo todo com organismos que o utilizam para se comunicar”, concluiu Hadany.
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Com informações de Olhar Digital