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Seus Dados Valem Dinheiro: Startup Brasileira Desafia Big Techs com Proposta para Pagar Bilhões a Usuários

“Você está dirigindo há anos, 12 horas por dia, produzindo dados que estão treinando a IA que vai te substituir, e não recebe nada por isso”. A provocação, feita pelo empreendedor brasileiro André Vellozo, resume a premissa de seu novo negócio, a Drumwave. Lançada oficialmente nos Estados Unidos, a startup chega com uma tese revolucionária: transformar os dados pessoais dos usuários em um ativo financeiro, sob controle direto de quem os produz.

Da sua casa em Palo Alto, no coração do Vale do Silício, Vellozo detalha um plano que pode redesenhar a relação de poder na economia digital. A Drumwave quer criar uma espécie de “poupança de dados”, permitindo que qualquer pessoa seja remunerada pelas informações que gera ao usar aplicativos, dirigir um carro ou comprar online. Em um momento em que a Inteligência Artificial demanda volumes cada vez maiores de dados para seu treinamento, a proposta ganha uma urgência crítica: se as pessoas são a fonte da riqueza, elas devem participar dos lucros.

A Tese da “Poupança de Dados” na Era da IA

A visão de Vellozo é ambiciosa e se baseia em uma análise histórica das ondas tecnológicas. Ele argumenta que, se a IA tiver um impacto similar ao da computação pessoal, a economia global pode saltar para a casa de um quatrilhão de dólares. A questão central, para ele, é quem se beneficiará dessa nova e massiva geração de valor. “Não quero um mundo em que os que ganham são meia dúzia que usam seus bilhões para viver para sempre e planejar a vida fora da Terra”, afirma. “A outra opção é um mundo em que o valor é compartilhado.”

A Drumwave se posiciona como a ferramenta para viabilizar essa segunda opção. A empresa quer operacionalizar as leis de proteção de dados, como a LGPD no Brasil, que já garantem ao indivíduo a propriedade sobre suas informações. O objetivo é criar uma infraestrutura para que essa propriedade possa ser, enfim, monetizada pelo cidadão comum, corrigindo o que Vellozo chama de uma “assimetria” fundamental no Vale do Silício, que promete há décadas que todos ganharão com a tecnologia, mas essa hora nunca chega.

Como Funciona na Prática: A “dwallet” e os Primeiros Alvos

O conceito central da Drumwave é a “dwallet”, uma carteira digital onde os dados do usuário são acumulados e gerenciados. De forma similar a uma conta de milhagens ou a um banco digital, o usuário terá um extrato de todas as transações e poderá decidir previamente quem pode acessar suas informações, para qual finalidade e com que frequência. Para iniciar sua operação, a empresa mira em três alvos simbólicos.

O primeiro são os motoristas da Uber, cujos dados de mobilidade, segundo a startup, podem valer 8 bilhões de dólares até 2030. O segundo são os donos de carros da Tesla, verdadeiros “computadores sobre rodas” que, nas contas da Drumwave, gerarão mais de 10 bilhões de dólares em dados por ano na próxima década. O terceiro alvo são os dados genéticos dos 15 milhões de clientes da 23andme, empresa que pediu falência, deixando um valioso acervo de informações em um limbo jurídico.

O Piloto no Brasil: Dataprev e a Validação do Modelo

Apesar do lançamento oficial nos EUA, o primeiro teste real da tese da Drumwave ocorreu no Brasil, em um piloto com a Dataprev, a estatal que processa dados da Previdência Social. Apresentado no Web Summit Rio, o experimento focado em contratos de crédito consignado gerou repercussão internacional imediata. Representantes de países como Escócia, Bélgica, Arábia Saudita e estados americanos como Califórnia e Texas buscaram a empresa para entender o modelo.

No piloto, ao contratar um crédito consignado pela carteira digital do governo, o cidadão pode optar por guardar os dados da transação em sua dwallet, definindo se deseja apenas armazená-los ou também monetizá-los. Patrick Hruby, executivo da Drumwave com passagem por Google e Facebook, compara a sofisticação da estrutura à do Pix. “O mundo estava pedindo isso”, afirma, sobre o interesse global. Segundo estimativas, um brasileiro comum poderia ganhar entre R$ 300 e R$ 500 por mês, um valor que tende a crescer com o tempo.

A jornada da Drumwave está apenas começando, e os desafios de convencer usuários e, principalmente, de fazer com que as Big Techs colaborem, são imensos. Contudo, a questão que ela levanta é fundamental para o século XXI: continuaremos a ser a matéria-prima gratuita da economia digital ou nos tornaremos, finalmente, sócios dela? A resposta a essa pergunta definirá se a promessa de um futuro tecnológico compartilhado se tornará, enfim, realidade.

Da redação do Movimento PB, com informações da Revista Exame

Redação do Movimento PB [GME-GOO-28072025-1152-15P]

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