Tecnologias Quânticas: O novo campo de batalha da segurança global, segundo o SIPRI
Relatório internacional alerta para o “Dia Q”, o fim da criptografia atual e o início de uma corrida armamentista baseada na manipulação de átomos e partículas.
As tecnologias quânticas deixaram de ser apenas teóricas e estão migrando rapidamente dos laboratórios experimentais para os domínios estratégicos de defesa, com implicações profundas para a segurança global. Um novo relatório do Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (SIPRI), publicado em julho de 2025, aponta que essa revolução não se limita a computadores mais rápidos, mas redefine o acesso ao conhecimento, afetando a criptografia, a vigilância e a tomada de decisões militares.
Diferente da primeira revolução quântica, que nos deu o laser e o transistor, esta “segunda revolução” baseia-se no controle de sistemas quânticos individuais, como átomos e fótons. O impacto é tão significativo que a OTAN e o Exército de Libertação Popular da China já reconhecem essas tecnologias como prioritárias para alcançar vantagens decisivas no cenário mundial.
A ameaça do “Dia Q” e o fim da privacidade
Uma das preocupações mais urgentes destacadas pelo documento é o risco à segurança digital. Especialistas estimam que, dentro de 8 a 15 anos, computadores quânticos universais atingirão o chamado “Dia Q” (Q-day), momento em que serão capazes de quebrar os sistemas de criptografia que hoje protegem desde transações bancárias até segredos de Estado.
O perigo, no entanto, já existe. O relatório alerta para a estratégia de “colher agora, decifrar depois”, onde adversários interceptam e armazenam dados criptografados hoje para decodificá-los assim que a tecnologia estiver disponível. Em resposta, governos e agências de padronização correm para desenvolver uma “criptografia pós-quântica” capaz de resistir a esses futuros ataques.
Navegação sem satélites e oceanos transparentes
Além da computação, os sensores quânticos estão prestes a transformar a guerra moderna. Essas ferramentas exploram a extrema sensibilidade das partículas para medir gravidade, campos magnéticos e tempo com precisão inédita. Isso permite, por exemplo, a navegação de precisão sem a necessidade de GPS (ou outros sistemas de satélite), algo crucial em conflitos onde o sinal de satélite é bloqueado ou negado.
Outra aplicação teórica debatida é o uso de sensores para tornar os oceanos “transparentes”, detectando submarinos nucleares através de anomalias minúsculas na gravidade ou no campo magnético. Embora o relatório do SIPRI ressalte que a detecção via satélite ainda enfrenta barreiras físicas significativas, sensores montados em drones já estão sendo testados para guerra antissubmarino em zonas costeiras.
A nova geopolítica da tecnologia
O desenvolvimento quântico tornou-se um foco central de competição entre grandes potências. A China e a União Europeia, por exemplo, estão liderando a implementação inicial de redes seguras e comunicação quântica via satélite. A China já estabeleceu a maior rede integrada do mundo, com cerca de 12.000 quilômetros, conectando fibras ópticas e satélites.
O cenário global revela um investimento massivo: até meados de 2025, governos ao redor do mundo anunciaram cerca de US$ 55,7 bilhões em financiamento público para o setor. O grupo BRICS, do qual o Brasil faz parte, também aparece no tabuleiro geopolítico, com iniciativas de cooperação bilateral, como os testes de comunicação quântica entre China, Rússia e África do Sul.
O relatório conclui com um alerta sobre a desigualdade. Sem esforços coordenados, o avanço dessas tecnologias pode criar uma assimetria de inteligência, onde nações tecnologicamente avançadas ganham acesso encoberto às comunicações de estados menos preparados, ampliando o fosso de segurança entre o Norte e o Sul Global.
Traduzido e adaptado de SIPRI (“Military and Security Dimensions of Quantum Technologies”), pela redação do Movimento PB. [RED-NOT-20112025-B3A9Q12-V018]