O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou a causar controvérsia ao comentar o filme Ainda Estou Aqui, dirigido por Walter Salles, e disparar críticas contra a atriz Fernanda Torres, protagonista da obra. Em entrevista ao Portal Léo Dias na terça-feira, 25 de fevereiro de 2025, Bolsonaro ironizou a produção, que concorre a três categorias no Oscar 2025 — Melhor Filme Internacional, Melhor Atriz e Melhor Filme —, e questionou a visão política que ele atribui ao longa, baseado na história de Rubens Paiva, ex-deputado assassinado durante a ditadura militar.
Ao ser perguntado se assistiu ao filme e se torceria pelo Brasil na premiação, Bolsonaro respondeu com sarcasmo: “O filme tinha que começar comigo”. Ele evitou uma resposta direta e desviou o foco para sua cidade natal, Eldorado Paulista, mencionando teorias sem evidências históricas sobre o guerrilheiro Carlos Lamarca. “Família Paiva, você tem que falar em Eldorado Paulista, a minha cidade. Você tem que falar em maio de 70, quando passou o Lamarca na cidade. Por que o Lamarca achou aquele lugar de guerrilha? Pode ser que não tem nada a ver com o Rubens Paiva”, declarou, resgatando uma narrativa que já usou no passado para contestar a versão oficial sobre Paiva.
Bolsonaro também atacou Fernanda Torres por uma suposta declaração da atriz de que o filme não seria possível em seu governo. “A mensagem ali é política. Ela falou que no meu governo não seria possível fazer aquele filme. Não seria por quê? Eu proibi algum filme no meu governo? Eu arrumei a Lei Rouanet, se bem que não tem Lei Rouanet nesse filme. Eu não persegui ninguém. Meu governo não perseguiu ninguém”, afirmou. O ex-presidente insistiu que sua gestão não censurou produções culturais, apesar de denúncias de artistas sobre pressões fiscais durante seu mandato, como apontado pelo jornalista Léo Dias, que citou o movimento Ele Não. Bolsonaro negou envolvimento: “Eu não determinei nada disso.”
Questionado novamente sobre o filme, ele admitiu não ter assistido: “Eu não tenho tempo de ver filme, até ler livro é quase impossível pra mim.” Quanto à torcida pelo Oscar, limitou-se a um comentário genérico: “O brasileiro ganha em qualquer lugar”, sem se comprometer com o sucesso da obra. Ainda Estou Aqui, que estreou em novembro de 2024 e já levou mais de 3,6 milhões de espectadores aos cinemas, narra a luta de Eunice Paiva (interpretada por Torres) após o desaparecimento de seu marido, Rubens, em 1971, um caso emblemático da repressão militar.
As declarações de Bolsonaro reacendem o debate sobre o papel da cultura na memória histórica e sua relação com a política. Enquanto o filme ganha projeção internacional, as críticas do ex-presidente evidenciam sua resistência a narrativas que confrontam o legado da ditadura, período que ele frequentemente exaltou durante seu governo.