Brasil em Cannes: Wagner Moura e Kleber Mendonça Filho brilham na première de O Agente Secreto

Novo longa do diretor de Bacurau estreia na mostra competitiva do festival; Brasil tenta sua segunda Palma de Ouro após 63 anos

O cinema brasileiro voltou a ocupar o tapete vermelho de Cannes na manhã deste domingo com a première mundial de O Agente Secreto, novo filme de Kleber Mendonça Filho estrelado por Wagner Moura. A exibição aconteceu durante a 78ª edição do Festival de Cinema de Cannes, marcando a terceira vez que o cineasta pernambucano participa da mostra competitiva oficial — feito que o coloca ao lado de nomes como Glauber Rocha, Cacá Diegues, Walter Salles e Hector Babenco entre os brasileiros com mais presença na disputa pela cobiçada Palma de Ouro.

A última (e única) vez em que o Brasil conquistou o prêmio máximo do festival foi em 1962, com O Pagador de Promessas, de Anselmo Duarte. Agora, mais de seis décadas depois, O Agente Secreto reacende as esperanças brasileiras na Croisette.

Um cineasta moldado pela cinefilia e pela crítica

Kleber Mendonça Filho, de 56 anos, tem uma relação íntima com o festival. “Minha relação com Cannes é muito pessoal e até difícil de expressar”, contou o diretor em entrevista ao jornal O Globo. “Muito antes de ir, eu era um jovem cinéfilo que entendia a importância histórica do festival.” Antes de se consolidar como cineasta, ele frequentou o evento como crítico de cinema e teve sua primeira exibição oficial em 2005 com o curta Vinil Verde, na Quinzena dos Realizadores.

A transição para a direção aconteceu de forma natural. “Larguei um trapézio e peguei outro”, diz Kleber. “Amava a crítica, mas senti que tinha chegado a um limite.” Seu primeiro longa, O Som ao Redor (2012), foi aclamado internacionalmente e abriu caminho para os sucessos posteriores Aquarius (2016) e Bacurau (2019), ambos exibidos em Cannes.

Thriller político ambientado nos anos 1970

O Agente Secreto é ambientado no Brasil do final da década de 1970, em meio às tensões do regime militar. A trama gira em torno de Marcelo (Wagner Moura), um especialista em tecnologia que retorna à sua cidade natal, Recife, em busca de tranquilidade. No entanto, ele rapidamente se vê envolvido em um cenário de paranoia, vigilância e fantasmas do passado.

Com elementos de suspense político e toques de ficção histórica, o filme reforça a assinatura autoral de Kleber, com forte crítica social e estética meticulosamente elaborada. O elenco de peso conta ainda com Gabriel Leone, Maria Fernanda Cândido, Hermila Guedes, Thomás Aquino e o alemão Udo Kier.

Produção internacional e distribuição no Brasil

O Agente Secreto é uma coprodução internacional envolvendo Brasil (CinemaScópio Produções), França (MK Productions), Holanda (Lemming) e Alemanha (One Two Films). A distribuição no Brasil ficará a cargo da Vitrine Filmes, que também trabalhou com os longas anteriores de Kleber.

A recepção em Cannes deve definir o destino internacional do filme e, quem sabe, dar ao Brasil mais uma chance real de conquistar a Palma de Ouro — um feito raro, mas possível, nas mãos de um diretor que já se consolidou como uma das vozes mais relevantes do cinema contemporâneo.