“Corpo Fechado”: Salgueiro celebra raízes afro com enredo sobre rituais de proteção no Carnaval 2025

Salgueiro leva “Corpo Fechado” ao Carnaval 2025, com rituais afro e tecnologia de Parintins para resgatar suas raízes.

A Acadêmicos do Salgueiro, tradicional escola da Tijuca, zona norte do Rio de Janeiro, levará para a Marquês de Sapucaí o enredo “Salgueiro de Corpo Fechado” no Carnaval 2025. Com um tema que resgata sua histórica ligação com a cultura afro-brasileira, a vermelho e branco aposta em um desfile que celebra rituais de fechamento de corpo, presentes em diversas tradições religiosas do Brasil. O carnavalesco Jorge Silveira define a proposta como “um mergulho sério e profundo na diversidade das culturas religiosas do Brasil”, marcando o retorno da escola às suas origens.

Silveira explica que o enredo reflete a jornada do Salgueiro descendo o morro para enfrentar a Sapucaí, a “maior encruzilhada do sambista”. O desfile buscará proteção simbólica e espiritual, evocando a memória afetiva da comunidade e os símbolos mais marcantes da agremiação. “Nosso enredo consiste em traduzir na avenida todos os rituais ou grande parte dos rituais de fechamento de corpo nas mais diferentes culturas religiosas brasileiras”, afirma o carnavalesco, destacando a intenção de unir materialidade e espiritualidade no espetáculo.

O pesquisador Leo Antan, integrante da equipe de criação, lembra o pioneirismo do Salgueiro em enredos afro desde os anos 1960, sob o comando de nomes como Fernando Pamplona e Arlindo Rodrigues. “A gente segue nessa vertente acreditando em um reencontro do Salgueiro com a identidade dele mesmo”, diz Antan. O enredo parte da chegada de africanos muçulmanos escravizados à Bahia, com destaque para os povos mandingas do Mali, e percorre influências que vão do cangaço nordestino a práticas indígenas, até culminar nas umbandas e candomblés cariocas.

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A narrativa será estruturada em setores que atravessam regiões e tradições culturais do Brasil. O desfile abre com o Morro do Salgueiro “fechando seu corpo” para a avenida, seguido por uma viagem histórica ao Império Mali e à Bahia dos escravos malês. O Nordeste entra em cena com o cangaço e seus amuletos, enquanto o quarto setor explora influências indígenas do Norte e Nordeste. Os dois últimos setores retornam ao Rio, celebrando a umbanda, o candomblé e a malandragem da Lapa. “É um passeio por regiões da cultura brasileira e geográficas também”, detalha Antan.

A escolha do tema ecoou fortemente na comunidade salgueirense, que abraçou o enredo com entusiasmo nos ensaios. “Eles adoram. A gente percebe essa alegria do salgueirense poder se reencontrar e reafirmar isso de maneira muito forte”, observa o pesquisador. O samba, com refrões impactantes, foi essencial para essa conexão. “Escolhemos um samba incrível, que chama a comunidade e gera esse reconhecimento”, completa.

Para surpreender na avenida, o Salgueiro investiu em inovação visual. Uma equipe de 12 profissionais de Parintins, conhecida pelo Festival de Boi-Bumbá, trouxe tecnologia de robótica e iluminação programada às alegorias. Jucelino Belém Ribeiro, artista do Boi Caprichoso, integra o grupo e destaca a evolução trazida por esse intercâmbio. “É a nossa diferença, principalmente na parte da robótica, com alegorias que se mexem”, explica. Após anos trabalhando em escolas como Vila Isabel, Jucelino voltou ao carnaval carioca atraído pelo projeto do Salgueiro, prometendo um desfile memorável.

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No barracão, a costureira Luciene Ferreira Moreira, há 19 anos na escola e atual coordenadora do setor, reflete o orgulho da comunidade. “É gratificante estar fazendo a roupa da minha escola de coração”, diz, emocionada ao ver suas fantasias na avenida. Aos 62 anos, ela se arrepia com o samba que fala de macumba e exalta as almas, antecipando o impacto visual e emocional do desfile. A participação de Xande de Pilares, ligado à história da escola, reforça essa união entre tradição e paixão salgueirense.

Texto adaptado de Agência Brasil e revisado pela nossa redação.

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