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De Campina Grande para o Oscar: Como um letreiro em filme de Wagner Moura resgata a soberania da ‘Rainha da Borborema’

De Campina Grande para o Oscar: Como um letreiro em filme de Wagner Moura resgata a soberania da ‘Rainha da Borborema’

Aparição surpresa do nome da cidade paraibana no trailer de “O agente secreto”, cotado para representar o Brasil no Oscar 2026, revela a força histórica de Campina como polo econômico e cultural do Nordeste.

Uma cena de poucos segundos no trailer de um dos filmes brasileiros mais aguardados do ano foi o suficiente para acender a curiosidade e o orgulho de toda a Paraíba. No trailer de “O agente secreto”, do aclamado diretor pernambucano Kleber Mendonça Filho e estrelado por Wagner Moura, o nome “Campina Grande” surge imponente na fachada de um prédio antigo. A imagem, que poderia ser um detalhe cenográfico qualquer, é na verdade um portal para a rica história de poder e influência que a cidade paraibana exerceu sobre todo o Nordeste, uma soberania agora resgatada e projetada para o mundo na tela do cinema.

O longa, ambientado na Recife dos anos 1970 durante a ditadura militar, já foi escolhido pela Academia Brasileira de Cinema para representar o Brasil na corrida por uma vaga no Oscar 2026. No meio da trama de espionagem e tensão política, o personagem de Wagner Moura olha para o letreiro que exibe o nome da cidade paraibana. A conexão, que intrigou muitos espectadores, foi desvendada pela historiadora pernambucana Gabriela Do Ó. O prédio retratado é o Edifício Trianon, localizado na Avenida Guararapes, no coração do Recife, e o letreiro, de fato, existiu.

A explicação é um fascinante registro da dinâmica regional da época. Segundo a historiadora, que consultou antigos moradores da região, no local funcionava uma transportadora que era a principal ponte rodoviária entre a capital pernambucana e o interior do Nordeste. O destino estampado em letras garrafais não era aleatório. “Fui perguntando aos amigos daqui (…) e me informaram que existia uma transportadora ali, que fazia o trajeto Recife – interior, Campina Grande…”, explicou Gabriela ao Jornal da Paraíba. A escolha do nome revela o status que Campina Grande já ostentava: era a grande referência geográfica, comercial e de desenvolvimento do interior nordestino.

Naquela época, muito antes da proliferação de rodovias e da facilidade de locomoção, viajar para “o interior” a partir de Recife significava, para muitos, ir para Campina Grande. A cidade não era apenas uma parada, mas o destino final, o grande polo que concentrava o comércio, a produção de algodão e a vida social de uma vasta região que se estendia por múltiplos estados. Ter seu nome estampado no centro de uma das maiores capitais do país não era um detalhe, mas uma declaração de poder e importância econômica.

A aparição no filme de Kleber Mendonça Filho, um diretor conhecido por sua atenção meticulosa aos detalhes históricos e sociais, transcende a mera curiosidade. É um ato de resgate da memória. Enquanto o filme busca o reconhecimento internacional em Hollywood, ele, de quebra, leva consigo um pedaço da história da Paraíba. A imagem do letreiro funciona como um lembrete sutil, mas poderoso, de que o Nordeste sempre foi uma região de múltiplos centros, com cidades do interior que exerciam uma força gravitacional própria.

Para os paraibanos, ver “Campina Grande” em uma produção deste calibre, destinada a uma audiência global, é mais do que um afago no orgulho local. É a confirmação de uma relevância histórica que por vezes é esquecida nas narrativas que centralizam o poder apenas nas capitais litorâneas. “O agente secreto”, em sua busca pela estatueta dourada, já deu um prêmio à Paraíba: a redescoberta de que o nome de Campina Grande, por si só, sempre foi sinônimo de destino e de futuro.

Redação do Movimento PB [NMG-OOG-19092025-K5L9M1-13P]


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