Cultura

Geraldo Vandré: O Herói Paraibano que Deu Voz à Resistência Chega aos 90 Anos como o Grande Enigma da MPB

Nascido em João Pessoa, autor de ‘Caminhando’ foi do céu de hino nacional ao inferno da perseguição e do exílio, vivendo as últimas cinco décadas em um silêncio que ainda ecoa na cultura brasileira.

O cantor, compositor e violonista paraibano Geraldo Vandré, nascido em 12 de setembro de 1935, em João Pessoa (PB), completou 90 anos nesta sexta-feira (12). A data é mais que uma efeméride; é a celebração da vida de um dos artistas mais importantes, complexos e enigmáticos da música popular brasileira, um homem cuja obra foi tão potente que o transformou em herói e mártir, e cujo silêncio de cinco décadas se tornou sua mais duradoura performance.

‘Caminhando’: A Canção que o Tornou Herói e Mártir

A trajetória de Vandré foi irrevogavelmente definida em 1968. Foi naquele ano que sua canção “Pra não dizer que não falei de flores”, popularmente conhecida como “Caminhando”, tornou-se o hino da resistência contra a ditadura militar. Apresentada no Festival Internacional da Canção, a música inflamou a plateia estudantil e se espalhou pelo país como um chamado à luta, catapultando Vandré ao panteão dos artistas que mobilizam uma nação. Mas o céu veio com um preço altíssimo: a mesma canção o arrastou para o inferno da perseguição implacável do regime.

O Longo Exílio, Dentro e Fora do Brasil

Perseguido pela ditadura, Vandré amargou um longo exílio. Gravou seu último álbum, “Das terras de benvirá”, na França, em 1970. Também morou no Chile, antes de retornar ao Brasil em 1973, quando escapou de ser preso por uma surpreendente intervenção de um general. A partir de então, iniciou uma espécie de exílio dentro do próprio país. Isolado e arredio, viveu as décadas seguintes longe dos holofotes, negando em suas raras entrevistas que tenha sido torturado.

O Enigma das Últimas Décadas

As aparições públicas de Vandré se tornaram lendas. A mais significativa, e até hoje a última, ocorreu em março de 2018, quando ele rompeu 50 anos de silêncio artístico com um show sinfônico em sua terra natal, João Pessoa, no Espaço Cultural. Ironicamente, seu último show profissional antes disso havia sido em 13 de dezembro de 1968, o mesmo dia em que foi promulgado o AI-5.

O mistério em torno de sua figura se aprofundou com atos como a composição, nos anos 80, da canção “Fabiana” para a Força Aérea Brasileira (FAB), uma aproximação com os militares que muitos que o viam como símbolo da resistência jamais compreenderam.

A Dívida do Brasil

Aos 90 anos, Geraldo Vandré segue como um enigma nunca decifrado. Ele não deve explicações a ninguém sobre as dores e traumas que guarda. Pelo contrário. Como resume o artigo que marca sua efeméride, se alguém deve algo ao já nonagenário Geraldo Vandré, é o Brasil que calou a voz do cantor nos anos de chumbo. Sua trajetória é um monumento doloroso ao preço da coragem, e seu silêncio, um verso contínuo que acusa a brutalidade de uma época e celebra a imortalidade de sua arte.

Redação do Movimento PB [NMG-OOG-13092025-G3H4I5-15P]


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